segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Caça e caçador


Muito já li sobre o médico e seus familiares como pacientes. Durante a minha carreira profissional tive oportunidade de atender médicas e seu núcleo mais próximo - esposo, mãe, filha, neta, nora e demais parentes. Esposas de médicos de um modo geral, e vice-versa, é um caso a parte.
Diante desses atendimentos, lembrava-me sempre de uma doença relativamente recente, chamada de esmeraldite.
Ela costuma atacar de preferência pessoas com esse perfil genealógico. A causa da esmeraldite são as concessões técnicas que os médicos, de um modo geral, concedem aos seus colegas por insistência deles, na maioria das vezes.
O insucesso dessa quebra de rotina foi apelidado, pelos próprios médicos, com o nome da pedra preciosa de cor verde, símbolo da Medicina - esmeraldite.
Nos livros modernos de medicina, já existe um capítulo sobre a esmeraldite. Felizmente, poucas vezes em minha vida fui paciente, sempre de ações voltadas à prevenção e à correção dos estragos da natureza.
Costumo dizer que idoso deve pagar uma taxa de pedágio para a hipertensão, distúrbios da glicose, doenças auto-imunes e as corriqueiras próprias do envelhecimento.
Estou saindo da minha mais recente experiência de médico paciente - estendido em uma mesa cirúrgica para me livrar de uma grave patologia.
Podia decidir, e preferi a anestesia local com infiltração dos nervos da face e do local da cirurgia, para conversar com o pessoal durante a cirurgia de mais de duas horas.
Esse tempo alongado não foi causado por dificuldades técnicas, mas pela espera do resultado da patologia, período em que a cirurgia ficou interrompida.
Juro que não senti o tempo passar pelo papo bastante animado durante a cirurgia. A conversa foi de A até Z. A equipe do hospital deu liga com a equipe de cirurgiões e o velho conversador então paciente.
A dor durante a cirurgia notou que não teria ambiente naquela sala e, depois da infiltração foi-se embora. Eu sabia que estava sendo cauterizado pelo cheiro de carne queimada, e só.
Esse tipo de cirurgia, onde é proibido o uso de esmeraldite, é o que todo o cidadão brasileiro tem direito, e não é atendido.
O combate à esmeraldite será um duro golpe em certos hospitais, que montam um circo para atender certos pacientes, dando um péssimo exemplo ao brasileiro.
A medicina, assim como a natureza, não tolera desaforos. A esmeraldite e o espalhafatoso recebimento em alguns bons hospitais privados, mas não os melhores do Brasil, são castigados com essa conduta.
Pacientes são explorados e, às vezes, inutilmente depenados numa casa de lucros das doenças, mesmo sem o sucesso procurado.
A natureza mal tratada pelo homem produz fenomenais catástrofes com milhares de vítimas.
Essa experiência em que o médico tem de ser paciente é a mesma daquele antigo ditado que diz que um dia é da caça e outro do caçador.

Gabriel Novis Neves
23-12-2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.