Os
jornais locais noticiam em sua primeira página a tragédia que comoveu Cuiabá.
Um dos elevadores de um prédio em construção despenca de uma altura razoável,
matando operários e encaminhando outros às UTIs.
A
nossa Cidade Azul está se transformando em um paliteiro que surge do dia para a
noite. É a tal da especulação imobiliária em uma cidade que está crescendo sem
a mínima infra-estrutura.
Basta
lembrar o nosso eterno problema da água tratada e o saneamento básico - sem
contar a mobilidade urbana, totalmente imóvel.
Esses
trabalhadores que morreram em serviço trabalhavam onde antigamente passeavam os
passarinhos e outros animais voadores.
Lembro-me
do espetáculo da saída dos morcegos do seu esconderijo, que era a torre da
Catedral de Cuiabá, e seus vôos rasantes em grupos enormes, que surgiam como um
tapete no céu até se perderem no infinito.
Um
dia pedi explicação ao meu pai sobre o voo diário, com hora marcada, dos
morcegos. Ele me disse que os morcegos vão se abastecer de alimentos. Voltam de
madrugada e ninguém vê. A saída para a caça era sempre ao crepúsculo.
Meu
pai explicou-me também da importância da revoada dos morcegos: além de se
alimentarem, traziam um estoque de alimentos que era, basicamente, sementes. No
trajeto muitas sementes eram perdidas, iniciando um novo ciclo da flora nativa.
Manoel
de Barros conta que onde nasceu só tinha bicho, solidão e árvore. Assim era a
minha cidade de nascimento, com um montinho de casas baixas.
O
João de Barro, por exemplo, tinha uma casa num poste mais alto que a minha
casa.
Nesse
cenário é que aprendi o sentido da liberdade, só reencontrado após quarenta
anos - no Quarup do Xingu, conversando com Orlando e Cláudio Villas Boas.
As
crianças de agora são criadas dentro de caixotes de concreto.
A solidão benigna do silêncio da natureza, só era interrompida pela orquestra dos pássaros, pelo barulho do vento e pelo som das águas dos rios.
Ela nos tempos modernos, foi substituída pela solidão de símbolos da dor: sirenes de ambulâncias, Corpo de Bombeiros, viaturas da polícia, ruídos de helicópteros procurando bandidos - fazendo manobras na altura do nosso dormitório.
A solidão benigna do silêncio da natureza, só era interrompida pela orquestra dos pássaros, pelo barulho do vento e pelo som das águas dos rios.
Ela nos tempos modernos, foi substituída pela solidão de símbolos da dor: sirenes de ambulâncias, Corpo de Bombeiros, viaturas da polícia, ruídos de helicópteros procurando bandidos - fazendo manobras na altura do nosso dormitório.
Batidas
de automóveis e gritos de dor ecoam pelas madrugadas junto às músicas das
caixas de som dos carrinhos dos filhinhos de papais ricos e irresponsáveis.
Os
operários que, na maioria das vezes, moram em barracões, pagaram com a própria
vida a audácia de querer viver decentemente na terra do medo.
Esses
trabalhadores sacrificados pelo crescimento e especulações do mundo dos lucros
econômicos, não estão mais conosco. Eles deixaram família. Muitos eram arrimos
dela.
E
os seus filhos, mulher, pai, mãe, irmãos, amigos que desconheciam a
solidão da aglomeração, como ficam após um corte inesperado nos seus trajetos?
Que
me perdoem aqueles que não me compreendem - o progresso é a principal causa da
solidão dos valores verdadeiros da vida.
Gabriel
Novis Neves
07-01-2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.