Retirei
os pontos da cirurgia realizada um dia antes do Natal.
Graças
a Deus estou curado, embora permaneça com curativo no nariz. Agora de silicone
para comprimir o enxerto que cobriu o buracão do meu presente de Natal.
Era
um tumorzinho maligno, mas amigo. Foi para o laboratório de patologia com o
bloco anatômico. Estava localizado no maior órgão do corpo humano - a pele.
Por
puro capricho da natureza, o meu amigo tumor escolheu exatamente a asa do
nariz.
Lá,
quase inexiste pele, mas cartilagem. O nariz possui um sutil revestimento de
pele - não muito adequado para retalhos e suturas.
O
tumorzinho é amigo, pelo seu tipo histológico que corresponde ao sobrenome das
pessoas. Como ninguém é perfeito neste mundo, o bichinho que me atacou, é
extremamente indiscreto.
Tanta
pele para escolher de difícil visibilidade e ele foi escolher exatamente o
nariz.
Tá
na cara, em todos os sentidos, que as perguntas foram inevitáveis,
especialmente nesse período de férias quando a cidade fica vazia e os assuntos
vão rareando.
Minha
resposta tinha que ser correta, correndo o risco de preocupar o
perguntador. A fase não era propícia para frustrar amigos nas festas do
feriadão de dezembro.
Nunca
escondi os problemas de saúde que enfrentei desde o meu nascimento.
Por ser portador de uma boa composição genética consegui me safar da prematuridade, quando não existia maternidade e nem se pensava em UTI neonatal.
Por ser portador de uma boa composição genética consegui me safar da prematuridade, quando não existia maternidade e nem se pensava em UTI neonatal.
Na
ausência de antibióticos o meu sistema imunológico se encarregou de afastar as
infecções.
Vacinas?
Peguei todas as doenças do livro de pediatria, hoje evitáveis (sarampo,
catapora, varíola, coqueluche, caxumba, rubéola etc.) e, com outras, corri
riscos, como a poliomielite.
Respondi
perguntas em todos os poucos lugares que frequento: dentro do elevador do meu
prédio, na padaria, no trajeto da caminhada e até no hospital onde trabalho e
fui operado.
- O que foi na cara?
- Retirei um câncer de pele.
- Já vem você com brincadeira. Foi plástica?
- Não, um câncer de pele.
- Mas logo agora? Não podia deixar passar as festas para fazer isso?
- O que posso fazer hoje eu não deixo para amanhã.
- Tá tomando antibiótico?
- Sim.
- Então não vai beber?
- Não.
- Você é um chato hipocondríaco.
Fui,
nesse período, severamente repreendido por falar a verdade sobre a minha doença
e por operar no dia 23 de dezembro.
Otto
Lara Resende dizia que o mineiro só é solidário no câncer. Descobri que o
cuiabano nem no câncer é.
Sei
que os perguntadores são amigos queridos e traduziram, com as suas perguntas, a
nossa cultura com relação à medicina preventiva.
Gabriel
Novis Neves
09-01-2011
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