Menino
do interior, no período das férias escolares ficava descobrindo lugares na
cidadezinha onde nasci.
A
nascente de um riacho, o esconderijo das rãs, o ninho dos passarinhos, o buraco
do tatu, o restaurante dos urubus, a casa das pombas, os lambaris visíveis na
correnteza do rio Coxipó, com as suas águas sempre límpidas.
O
moço pescando, o velho no barco - não esquecendo nunca do misterioso morro da
prainha que ficava em frente à casa que nasci.
O
rio Cuiabá piscoso e propício à navegação comercial com saída pela Bacia do
Prata beijando as águas salgadas do Atlântico.
Suas
lavadeiras, suas crianças e o banho dos cavalos, meio de transporte predileto
na minha infância.
As
férias passavam muito rápidas, e ninguém nunca pensou que, em outra época,
nesse período tão cheio de ensinamentos, fossem se tornar obrigatório uma
viagem.
Com
o progresso perdemos todo esse cenário de beleza. Acho que por esse motivo
inventaram as viagens de férias.
Fuga
à procura de um mundo perdido e a ilusão de reencontrá-lo em algum lugar. Além
do pavor das novas gerações em parecer o que não é.
Viajar
no verão tornou-se um hábito dos tempos modernos, quase um dever. Permanecer na
sua cidade bisbilhotando os seus mistérios passou a ser considerado um fracasso
financeiro.
A
falta de dinheiro traduz hoje uma situação difícil de ser administrada e
suportada. Estamos no apogeu do mundo das grifes.
Conheço famílias que, para não exporem as suas dificuldades econômicas no verão, estocam alimentos na dispensa, dizem que vão viajar e ficam dias escondidas para não se sentirem diminuídas.
Conheço famílias que, para não exporem as suas dificuldades econômicas no verão, estocam alimentos na dispensa, dizem que vão viajar e ficam dias escondidas para não se sentirem diminuídas.
Assim
nasce a sociedade da hipocrisia - onde aquele que tem recurso não mostra o que
possui por motivos de segurança e quem não tem prefere se esconder fisicamente
a perder a sua identidade atingida pelo consumismo.
Queiram
ou não, no imaginário popular conseguiu-se criar o estímulo da necessidade de
viajar, principalmente, no verão.
Viagens
das promiscuidades, surgidas nas aglomerações dos aeroportos desconfortáveis,
dos aviões, onde por horas, dormem-se ao lado de um desconhecido. Hotéis,
restaurantes lotados e com filas para tudo e, a grande estrela desse pacote, as
visitas e compras, enchendo sacolões nos shoppings.
Nem
um tempinho para trazer o que não temos: a história dos povos dos países
visitados e a sua arte.
Os
produtos de consumo nós temos aqui, na primeira esquina. Com facilidade levamos
para casa, sem alterações e, às vezes, com preços mais compensatórios, livres
das revistas das malas na alfândega onde, para humilhar o passageiro sorteado,
peças íntimas são lançadas ao chão.
Compensa
manter essa tradição? Não sei, mas há muito abandonei, conscientemente e sem
remorsos, esse ritual sofredor.
O
homem não tem horário para ser feliz, é a minha religião. De repente ela
aparece onde vivo, trabalho e amo.
E
se Ela não me encontrar? O meu desejo de ser feliz ou encontrar a felicidade é
maior que o desejo de viajar no verão.
Gabriel
Novis Neves
11-01-2012
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