terça-feira, 31 de julho de 2012

Contramão


Conheci um trabalhador de salário mínimo com menos de cinquenta anos de idade. Era casado e possuía filhos com uma moça que vi crescer. Há um ano apresentou um câncer de pulmão e faleceu na fila do SUS enquanto esperava por providências.
As consultas marcadas e desmarcadas, os exames demorados e os retornos espaçados abreviaram, em muito, a sua permanência entre nós.
Seus companheiros de infortúnio tratados em clínica privada não estão curados, mas ainda nos fazem companhia e levam uma vida sem restrições.
Após o seu óbito a pobre família procurou a Defensoria Pública para o necessário inventário.
Uma série de certidões foi solicitada à viúva.
Ao chegar à Secretaria de Fazenda, para surpresa da viúva e dos parentes, descobriu-se que o falecido era proprietário de uma grande área rural em um dos municípios mais ricos do noroeste do Estado.
O município é novo, fica à beira de rodovia federal (174), suas terras são agricultáveis e sua riqueza maior é a criação de bovinos.
O pobre trabalhador morreu quase à míngua, sem saber que era milionário.
Será que o governo do Estado identificará quem é o criminoso proprietário dessas terras?
Fica a indagação a quem de direito.
A família do trabalhador necessita de resposta urgente para que possa concluir o inventário e se habilitar a receber uma mísera pensão do INNS.
Enquanto isso, há três anos não se faz transplante renal no Estado, e a fila já tem 688 pacientes esperando por uma oportunidade de viver.
O Hospital São Matheus deixou de atender os pacientes do plano de saúde do Estado - o MTSaúde - por falta de pagamento aos seus médicos.
Os jornais anunciam que cumprir lei no Brasil é para otários.
Os ministros do Supremo Tribunal Federal não cumprem a lei do teto constitucional que regula o salário do funcionalismo público, os quais recebem acima do dito teto.
O pior é o efeito cascata que isso causa nos tribunais Estaduais da Justiça, onde o salário de um desembargador poderá chegar até a mais de cem mil reais, como no Rio de Janeiro.
Nessa cascatinha são beneficiados juízes e promotores.
E a viúva pobre milionária, vai ser julgada?
Estamos na contramão.

Gabriel Novis Neves
21-07-2012

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