terça-feira, 10 de julho de 2012

GOSTO


Se existe uma coisa que não se discute é o gosto das pessoas. O que seria da humanidade se existisse unanimidade na preferência dos nossos sentimentos e emoções?
Escrevo diariamente pequenos textos de fundo social, e tento mostrar aquilo que o meu coração vê. Sei que alguns os leem.
Para descansar os meus leitores dessas misérias sociais colocadas após um túnel escuro, onde não se vê o final, escrevo, ou melhor, tento escrever textos relacionados a essa figura complexa que é o ser humano.
A reação de espanto é imediata. A maioria não interpreta esses artigos, propositais, como um descanso de final de semana.
Enxergam situações que desconheço. Uma das aventuras de escrever – e publicar - é a de saber exatamente como você é interpretado.
Nesta minha curta carreira, com mais de mil artigos publicados, tenho uma pequena amostra do que digo.
Uns concordam em número gênero e grau - como se costuma dizer. Outros fazem grandes reparos, geralmente não aceitando a utopia tão frequente neles.
Não acreditam que um dia possamos ter um mundo melhor.
Ah! E quando escrevo sobre sentimentos humanos?
O comentário é inevitável: - “Aí tem...”. E, na verdade, tem.
Vivo em um mundo diferenciado do mundo dos negócios, onde a felicidade está no resultado do fechamento das Bolsas de Valores de Chicago. Vivo de fortes emoções, produzidas no ambiente em que trabalho, que é um hospital.
O sociólogo João Vieira, durante anos me acompanhou nos plantões de sábado no saudoso Hospital Geral.
Um dia, voltava da sala de partos e, ao chegar ao quarto dos médicos, Vieira me surpreende com esta frase: “O hospital é um centro de despojamento”.
Todos os nossos bens materiais, títulos e honrarias, ficavam na recepção do hospital. Ali tinha gente doente e gente habilitada a tratar dessas pessoas. Na ocasião, eu era, lá fora, reitor da Universidade Federal de Mato Grosso.
Naquele espaço de macas, centros cirúrgicos e enfermarias, só tinha lugar para os profissionais despojados de qualquer outro sentimento que não fosse o de igualdade e da solidariedade para com os enfermos.
Para muita gente é difícil acreditar que nos dias de descanso existe quem cuide dos doentes por gosto, mesmo sendo remunerados.
É sábio o velho ditado que “gosto não se discute”, muito menos nas intenções de um texto que expõem as nossas emoções, dando origem às mais variadas interpretações.

Gabriel Novis Neves
18-06-2012

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