domingo, 22 de julho de 2012

EMBOTAMENTO AFETIVO


Não consigo entender, e fico a me fazer algumas indagações sobre o embotamento afetivo nos dias de hoje.
Que tipo de sinapses nervosas nós estaríamos desenvolvendo na era moderna em que tudo se torna descartável em meses, dias, horas ou minutos?
Estaríamos nós sofrendo de mutações tão drásticas, que a dissolução dos sentimentos e emoções se dá tão rapidamente que já não temos mais tempo para perceber?
Estaríamos nós sendo tragados, com todo o seu poder de destruição, pela máquina monstruosa do consumismo?
Será que qualquer simples ameaça de entrega a um único objeto de amor ou desejo desencadearia imediatamente uma violenta reação química contrária, fazendo com que todos os sentimentos fossem anulados drasticamente, como num filme de ficção científica?
O embotamento é visível em todas as áreas: econômica, social, política, cultural e, desastradamente, na área vital para o ser humano, a afetiva.
E o que dizer quando esse embotamento é medicamentoso? Vivemos numa cultura que penaliza “os estados de infelicidade", enfatizando que eles devem ser tratados, ainda que as suas causas sejam plenamente justificáveis.
São as perdas, desencontros, conflitos familiares e toda a gama de sofrimentos que o simples viver nos impõe.
Não por acaso as doenças vem aumentando, apesar dos avanços científicos e tecnológicos vigentes.
Estará a nossa córtex cerebral perdendo a capacidade de fortalecer o nosso sistema imunológico e com isso fazer com que sejamos mais sensíveis ao estresse e às ameaças do meio ambiente?
Enfim, viver a era dos mutantes é uma tarefa nada fácil.
É só pensar que todas as transformações e avanços da humanidade aconteceram, na sua maior parte, nesses últimos setenta anos.
Até aí, os nossos ascendentes viveram de uma maneira mais ou menos linear, sem necessidades de adaptações tão rápidas.
Não será tudo isso um motivo de reflexão?
Será que a afetividade tem que ser exercida em segredo, propiciando-nos o sonho do conforto protetor debaixo das asas dos nossos sentimentos, inexistentes antes da corrida do desenvolvimento econômico?
"Para o mundo você pode ser uma pessoa, mas para uma pessoa você pode ser o mundo". (Anônimo)
O embotamento afetivo, como ele se tem apresentado, pode ser traduzido como o final do mundo das emoções.
Resta-nos o sentimentalismo, que é o sentimento que não compartilhamos, dizia o romancista inglês Graham Greene.

Gabriel Novis Neves
22-06-2012

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