Não
consigo entender, e fico a me fazer algumas indagações sobre o embotamento
afetivo nos dias de hoje.
Que
tipo de sinapses nervosas nós estaríamos desenvolvendo na era moderna em que
tudo se torna descartável em meses, dias, horas ou minutos?
Estaríamos
nós sofrendo de mutações tão drásticas, que a dissolução dos sentimentos e
emoções se dá tão rapidamente que já não temos mais tempo para perceber?
Estaríamos
nós sendo tragados, com todo o seu poder de destruição, pela máquina monstruosa
do consumismo?
Será
que qualquer simples ameaça de entrega a um único objeto de amor ou desejo
desencadearia imediatamente uma violenta reação química contrária, fazendo com
que todos os sentimentos fossem anulados drasticamente, como num filme de
ficção científica?
O
embotamento é visível em todas as áreas: econômica, social, política, cultural
e, desastradamente, na área vital para o ser humano, a afetiva.
E
o que dizer quando esse embotamento é medicamentoso? Vivemos numa cultura que
penaliza “os estados de infelicidade", enfatizando que eles devem ser
tratados, ainda que as suas causas sejam plenamente justificáveis.
São
as perdas, desencontros, conflitos familiares e toda a gama de sofrimentos que
o simples viver nos impõe.
Não
por acaso as doenças vem aumentando, apesar dos avanços científicos e
tecnológicos vigentes.
Estará
a nossa córtex cerebral perdendo a capacidade de fortalecer o nosso sistema
imunológico e com isso fazer com que sejamos mais sensíveis ao estresse e às
ameaças do meio ambiente?
Enfim,
viver a era dos mutantes é uma tarefa nada fácil.
É
só pensar que todas as transformações e avanços da humanidade aconteceram, na
sua maior parte, nesses últimos setenta anos.
Até
aí, os nossos ascendentes viveram de uma maneira mais ou menos linear, sem
necessidades de adaptações tão rápidas.
Não
será tudo isso um motivo de reflexão?
Será
que a afetividade tem que ser exercida em segredo, propiciando-nos o sonho do
conforto protetor debaixo das asas dos nossos sentimentos, inexistentes antes
da corrida do desenvolvimento econômico?
"Para
o mundo você pode ser uma pessoa, mas para uma pessoa você pode ser o
mundo". (Anônimo)
O
embotamento afetivo, como ele se tem apresentado, pode ser traduzido como o
final do mundo das emoções.
Resta-nos
o sentimentalismo, que é o sentimento que não compartilhamos, dizia o
romancista inglês Graham Greene.
Gabriel
Novis Neves
22-06-2012
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