quarta-feira, 18 de julho de 2012

COMEÇOU MAL


Sou amigo do Mauro Mendes e fui seu eleitor para governador do Estado. Acredito que ele está preparado para administrar Cuiabá - empreitada bastante difícil.
As pesquisas, no momento, lhe dão o 1º lugar e a possibilidade de vencer a eleição no primeiro turno.
Entretanto, Mauro Mendes começou mal o seu trabalho de visitas. Foi muito infeliz na sua declaração à imprensa após uma visita a um hospital privado de Cuiabá, quando se referiu à qualidade dos atendimentos.
Disse ele: “Seguramente, o fator gestão é o grande causador da péssima qualidade dos serviços oferecidos nas instituições. Se melhorarmos muito a gestão, vamos melhorar muito o resultado e a qualidade da saúde em Cuiabá”.
Entenderam? A proposta do candidato é colocar um grande gestor na saúde, como se isso, e somente isso, fosse resolver todos os problemas da nossa combalida saúde pública.
Basta enumerar alguns aspectos para percebermos o caos instalado: salários indignos dos trabalhadores da saúde; número insuficiente desses profissionais para atender, e bem, a demanda de serviços; espaços físicos inadequados, pois os que estão aí, não estão dentro da filosofia da hierarquização do SUS - que começa com a atenção básica nas unidades do Programa Saúde da Família, equipado para terminalidade naquela fase e equipes com perfis técnicos para esse tipo de atendimento. 
Continuando, ainda podemos citar: as UPAS (Unidades de Pronto Atendimento e Social)  de número insuficiente e,  ainda não funcionando. Policlínicas em pontos estratégicos da cidade, que deveriam ser equipadas e funcionando bem para desafogar o Pronto Socorro.
Serviços outros, como Pronto Socorro para os usuários dependentes químicos e moradores de rua, que exige espaço físico e pessoal treinado (existente em Cuiabá, mas que a prefeitura não contrata por falta de recursos), simplesmente não funciona.
Finalmente, o novo hospital a construir, pois temos um que precisa de uma enorme plástica para ser reconhecido como hospital.
Tudo isto não se faz com discursos, e sim, com recursos.
Caro candidato, se o problema fosse gestão, Mato Grosso seria modelo para o mundo.
A Secretaria Estadual de Saúde, em oito anos, contou com a administração de médicos por apenas dez meses. Para se ter uma ideia da situação, o último secretário médico ficou no cargo, contando o dia da posse e os sábados e domingos, somente vinte e três dias.
O resto do governo da gestão foi comandado por um executivo de uma das empresas do agronegócio.
Esse período ficou marcado na história da saúde pública como o que fechou o maior número de hospitais do Estado.
Cuiabá perdeu 1000 leitos hospitalares e muitos serviços de ponta foram fechados no período da ‘boa gestão’.
O município de Cuiabá, nos últimos dez anos, teve mais de dez secretários de saúde. Atualmente é um leigo, amigo do prefeito.
Meu caro candidato, esse discurso de má gestão para os males da saúde pública é velho, repetido e não desperta nenhum sentimento de esperança de melhoria do serviço no eleitor, pelo contrário.
O próprio ex-presidente da República, que um dia afirmou que o SUS estava à beira da perfeição, já reconheceu o seu erro e pediu perdão ao povo brasileiro.
Após alguns meses de tratamento de uma séria doença em hospital privado em São Paulo, na sua primeira entrevista à imprensa disse: “Estou curado porque tive oportunidade de me tratar em um hospital particular. O problema da saúde pública no Brasil é a falta de dinheiro para a saúde”.
Reformule senhor candidato, o seu discurso para tratar dos assuntos para a saúde. Converse com o PR, que fez uma gestão ‘exemplar’ durante oito anos no Estado - e o resultado foi o maior sucateamento dos serviços da saúde nunca visto por estas bandas.
É importante lembrar o quase desaparecimento do Centro de Reabilitação Dom Aquino Correa, que atendia aos pobres.
Ouça a voz da experiência. Procure em São Paulo o doutor Adib Jatene que, por muitos anos, foi gestor do INCOR quando este era o hospital dos presidentes, ministros, senadores, governadores e milionários.
Talvez o renomado médico do coração lhe convença a procurar recursos extras para a saúde. Não repita o fedorento e preguiçoso discurso dos seus antecessores.

Gabriel Novis Neves
15-07-2012

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