Apesar
de todos os avanços e sinais de modernidade que o Brasil tem experimentado,
existe um preconceito que nem o presidente Bossa Nova conseguiu se libertar
dele: o da crença de que os políticos não podem expor suas doenças.
JK,
durante o seu mandato, sofreu um infarto do miocárdio. O assunto ficou com o
Serviço de Segurança Nacional. O Brasil e o mundo jamais poderiam saber que o
construtor de Brasília estava infartado.
Seria
uma tragédia nas bolsas de valores e uma injeção de ânimo nos golpistas de
plantão.
Antes
de JK, o presidente Café Filho internou-se no Hospital Público dos Servidores
do Estado (IPASE), com um quadro de infarto do miocárdio em área não nobre e,
após a sua alta, não era mais presidente.
Tentou
montar um governo constitucionalista no navio Almirante de Tamandaré, e o sonho
terminou em Santos.
Antigamente
os políticos escondiam as suas doenças.
Dois,
dos quase presidentes contemporâneos, deixaram de assumir as suas funções
exatamente por não revelarem suas doenças, enquanto era possível uma reversão
pela ciência médica, que não realiza milagres: Petrônio Portela e Tancredo
Neves.
Quem
inovou no sentido de revelar publicamente suas patologias médicas foi o General
Figueiredo.
Até
o governo FHC, os presidentes, ministros e outros barnabés graduados,
utilizavam hospitais públicos.
Tancredo
morreu no hospital da USP.
Hoje,
de dez políticos cujas despesas médico-hospitalares correm por conta do
contribuinte, dez preferem o particular midiático Sírio Libanês, com médico-doutor
recepcionista.
Político
doente perdia eleição - era parte da crença popular.
O
preconceito contra políticos que revelavam seus problemas de saúde chegou ao
ponto do povo brasileiro eleger um atleta (Collor), para comandar o Brasil.
Reconheço
que nos tempos atuais esse preconceito diminuiu, mas não foi extinto.
Existem
ainda aqueles que preferem esconder os seus males, se isso fosse possível com
os sofisticados meios de comunicação.
Não
revelar uma doença hoje, enquadra-se perfeitamente no velho ditado que diz que
a emenda saiu pior que o soneto.
Há
uma forte e verdadeira razão para alguns políticos não revelarem os seus males:
é por simples pudor.
Enquanto
eles têm enormes facilidades de hospitalização e tratamento nos melhores
hospitais do Brasil, os pacientes do SUS, com patologias muito mais sérias,
morrem nas filas de espera.
Aqui
em Mato Grosso não se consegue uma internação hospitalar nem com mandado
judicial à Secretaria de Saúde do Estado.
A
justiça fica desmoralizada e, muitas vezes, o paciente morre e não acontece
nada ao Estado.
São
vários os casos de pacientes que ficam nos depósitos das enfermarias
hospitalares aguardando por uma oportunidade de vida ou de morte.
Já
para os nossos políticos essas dificuldades inexistem.
Há
sempre vagas e equipes médicas altamente qualificadas, com chefe de recepção e
pagamento de honorários, sem tetos e atrasos, com os recursos dos contribuintes
brasileiros aos hospitais, serviços auxiliares e médicos.
Os
nossos políticos e altas autoridades dos três poderes e anexos, não conhecem um
hospital público, pois, até um simples curativo eles fazem fora do Estado.
Mesmo
os hospitais privados estaduais, com excelente corpo clínico, são ignorados
pela elite responsável pela saúde dos pobres (SUS).
É
uma falta de respeito o que esses senhores fazem em nome da democracia.
O
pudor de esconder uma doença é para poucos e chega a causar estranheza.
Pobre
país em que os governantes são cruéis, até na doença dos seus semelhantes,
demonstrando que não somos iguais.
Gabriel
Novis Neves
29-06-2012
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