quinta-feira, 19 de julho de 2012

Políticos e doença


Apesar de todos os avanços e sinais de modernidade que o Brasil tem experimentado, existe um preconceito que nem o presidente Bossa Nova conseguiu se libertar dele: o da crença de que os políticos não podem expor suas doenças.
JK, durante o seu mandato, sofreu um infarto do miocárdio. O assunto ficou com o Serviço de Segurança Nacional. O Brasil e o mundo jamais poderiam saber que o construtor de Brasília estava infartado.
Seria uma tragédia nas bolsas de valores e uma injeção de ânimo nos golpistas de plantão.
Antes de JK, o presidente Café Filho internou-se no Hospital Público dos Servidores do Estado (IPASE), com um quadro de infarto do miocárdio em área não nobre e, após a sua alta, não era mais presidente.
Tentou montar um governo constitucionalista no navio Almirante de Tamandaré, e o sonho terminou em Santos.
Antigamente os políticos escondiam as suas doenças.
Dois, dos quase presidentes contemporâneos, deixaram de assumir as suas funções exatamente por não revelarem suas doenças, enquanto era possível uma reversão pela ciência médica, que não realiza milagres: Petrônio Portela e Tancredo Neves.
Quem inovou no sentido de revelar publicamente suas patologias médicas foi o General Figueiredo.
Até o governo FHC, os presidentes, ministros e outros barnabés graduados, utilizavam hospitais públicos.
Tancredo morreu no hospital da USP.
Hoje, de dez políticos cujas despesas médico-hospitalares correm por conta do contribuinte, dez preferem o particular midiático Sírio Libanês, com médico-doutor recepcionista.
Político doente perdia eleição - era parte da crença popular.
O preconceito contra políticos que revelavam seus problemas de saúde chegou ao ponto do povo brasileiro eleger um atleta (Collor), para comandar o Brasil.
Reconheço que nos tempos atuais esse preconceito diminuiu, mas não foi extinto.
Existem ainda aqueles que preferem esconder os seus males, se isso fosse possível com os sofisticados meios de comunicação.
Não revelar uma doença hoje, enquadra-se perfeitamente no velho ditado que diz que a emenda saiu pior que o soneto.
Há uma forte e verdadeira razão para alguns políticos não revelarem os seus males: é por simples pudor.
Enquanto eles têm enormes facilidades de hospitalização e tratamento nos melhores hospitais do Brasil, os pacientes do SUS, com patologias muito mais sérias, morrem nas filas de espera.
Aqui em Mato Grosso não se consegue uma internação hospitalar nem com mandado judicial à Secretaria de Saúde do Estado.
 A justiça fica desmoralizada e, muitas vezes, o paciente morre e não acontece nada ao Estado.
São vários os casos de pacientes que ficam nos depósitos das enfermarias hospitalares aguardando por uma oportunidade de vida ou de morte.
Já para os nossos políticos essas dificuldades inexistem.
Há sempre vagas e equipes médicas altamente qualificadas, com chefe de recepção e pagamento de honorários, sem tetos e atrasos, com os recursos dos contribuintes brasileiros aos hospitais, serviços auxiliares e médicos.
Os nossos políticos e altas autoridades dos três poderes e anexos, não conhecem um hospital público, pois, até um simples curativo eles fazem fora do Estado.
Mesmo os hospitais privados estaduais, com excelente corpo clínico, são ignorados pela elite responsável pela saúde dos pobres (SUS).
É uma falta de respeito o que esses senhores fazem em nome da democracia.
O pudor de esconder uma doença é para poucos e chega a causar estranheza.
Pobre país em que os governantes são cruéis, até na doença dos seus semelhantes, demonstrando que não somos iguais.

Gabriel Novis Neves
29-06-2012

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