Minha
filha participou de um Congresso de uma grande multinacional em São Paulo.
Durante
o dia as palestras são técnicas: planejamento estratégico, mercado e marketing.
Sempre coordenadas pelos melhores especialistas da área, tanto brasileiros
quanto estrangeiros. À noite sempre é convidado um vencedor para a conferência;
não se exige currículo acadêmico.
Já
passaram por lá ex-presidentes da República, escritores, empresários, atletas,
artistas, etc.
Neste
congresso, o conferencista que encantou minha filha foi um conhecidíssimo
personagem do mundo esportivo, e como ela não acompanha futebol, nunca tinha
ouvido falar dele.
Após
a conferência, de tão entusiasmada que ficou, esqueceu-se até do fuso horário e
me telefonou - acordando-me - para saber se eu conhecia um técnico de futebol
cujo nome falou embaralhado, mas logo traduzi: Murici.
Ele
mesmo! O Murici Ramalho, atualmente é técnico do Santos. Dei essa informação
para ela.
-
Pai, o senhor precisa assistir a uma conferência dele. É um espetáculo, e todo
mundo gostou, foi aplaudido de pé após a sua fala – disse minha filha, muito
empolgada.
-
Minha filha – falei - conheci o Murici como jogador de futebol. Nunca foi essas
coisas. Era jogador mediano de clube. Todos os domingos eu assisto às suas
mal-humoradas entrevistas. Para mim é uma surpresa saber que o Murici é
conferencista, e que causa esta reação agradável nas pessoas, ainda mais em um
Congresso Internacional.
-
Pai, foi a maneira como ele se apresentou – explica minha filha, e reproduziu
mais ou menos para mim o teor da conferência:
“Sou feio, baixo, gordo, barrigudo, nada
simpático, grosso e mal-educado no tratamento das pessoas; segundo a maioria,
não me visto bem, tampouco frequento lugares da moda e badalados”.
“Falo o que penso, e isso não é agradável para
ser ouvido, tanto no futebol quanto em outras atividades. Politicamente, meu
comportamento de empregado não é o correto”.
“Sou técnico de futebol por profissão. Os
grupos que comandei conquistaram inúmeros títulos: foram cinco de campeão
brasileiro de futebol e outros estaduais”.
“Atualmente trabalho no Santos, onde há dois
meses ganhamos o título de campeão paulista de futebol. Apesar desse feito
recente, posso ficar desempregado se o meu grupo não obtiver bons resultados”.
“A minha profissão exige resultados, e todo o
trabalho que realizo com o grupo está centrado em resultados positivos. Não
pratico a auto-estima com os meus atletas, porque isso não lhes falta”.
“Trabalho intensamente nos treinamentos
táticos e físicos, sempre lembrando aos atletas que o meu emprego, e o deles,
depende de resultados”.
“Acredito que, no caso da multinacional, a
metodologia também seja essa. Se os resultados não forem alcançados, a empresa
vai à falência, levando os seus proprietários para o brejo, e os seus
funcionários ao desemprego".
“A única empresa onde os resultados não causam
preocupações é a empresa Brasil”.
Escutei
sem interrompê-la. E pensei cá comigo: - Era tudo o que os donos da
multinacional queriam que os seus funcionários ouvissem, e pela voz de um ídolo
nacional.
Em
mim esse fato fez renascer um passado não muito distante, em que vencedores sem
títulos acadêmicos davam aula na UFMT.
Gabriel
Novis Neves
27-06-2012
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