domingo, 15 de julho de 2012

ESTÁ PROIBIDO MORRER


Li no blog do Ronaldo Nezo que em Maringá (PR), está proibido morrer. Embora ninguém queira morrer, não tem jeito, a morte nos espera.
Acontece que nessa cidade do Paraná, a coisa está complicada, e morrer lá pode sair muito caro.
O motivo é simples. Faltam jazigos. O cemitério municipal não tem sepulturas e o privado aumentou o preço.
Isso gerou, na rica Maringá, uma espécie de especulação imobiliária, segundo o autor da matéria. O terreno no cemitério nunca esteve tão valorizado.
Tem gente removendo os restos mortais de parentes para vender jazigo.
Citei o nome da cidade e do autor do texto, pois poderia correr o risco de todos pensarem que eu estava escrevendo sobre o problema que se arrasta há anos em nossa capital.
Receberia apoio de inúmeras famílias que me telefonam para abordar esse tema.
Lá no Paraná, o problema se restringe à especulação imobiliária dos jazigos.
Aqui, além dessa questão, que é idêntica, temos os assaltos aos visitantes e o roubo dos túmulos, onde nenhuma providência é tomada pelos órgãos competentes, que na verdade são muito incompetentes. 
A minha filha, escrava do planejamento, em surdina, comprou um jazigo (terreno) no início da avenida central do principal cemitério municipal de Cuiabá.
Segundo ela, a localização é privilegiada. Fica próxima ao portão principal da Casa do Descanso Eterno.
Concluída as obras, contou-me sobre o seu investimento. Disse-lhe que, da aquisição do jazido para cá, a valorização foi enorme e saiu baratíssima a obra, onde toda a família ficará reunida até a ressurreição do corpo e alma.     
Se fosse vender hoje, daria para comprar um apartamento de cobertura em bairro valorizado, sem dengue nem esgoto correndo a céu aberto.
Convidou-me a visitar minha última morada.
Pela ordem natural da biologia, a estreia ficaria comigo, ocasião onde seria trazido o corpo da minha mulher, provisoriamente morando na casa da minha mãe.
Recusei o convite para a visita, mesmo sabendo que as instalações ficaram maravilhosas.
Nunca me preocupei com o depois, quando desaparece a esperança.
A minha alma entrego a Deus.
O meu corpo é problema de saúde pública.
Não quero mais me preocupar com essas coisas mundanas de atestado de óbito, cartório, contrato com empresas funerárias e a escolha do seu imenso cardápio de opções de espera. Flores importadas e regionais, música ao vivo, salgadinhos e até discursos. 
De acordo com a religião, será chamado o pastor predileto.
O meu corpo ficaria bem melhor em um laboratório de medicina do que guardado em um caixote de concreto - valorizado pela especulação imobiliária.
Em Cuiabá, há tempos, está proibido enterrar.

Gabriel Novis Neves
04-03-2012

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