terça-feira, 1 de julho de 2014

LIMPEZA SOCIAL

Saí de Cuiabá na madrugada do dia dez de junho. No trajeto até ao aeroporto notei a limpeza social que foi realizada na cidade para a Copa do Mundo.
O mesmo fenômeno deve ter acontecido em todas as doze cidades-sede.
No Rio esse acontecimento é matéria de destaque na mídia. Onde andam os mendigos, os moradores de rua e os menores abandonados? Maquilagem perfeita!
Em compensação, a exploração aos estrangeiros, através dos preços exorbitantes de todos os bens consumíveis, chegou a tal ponto que eles passaram a ocupar, despudoradamente, os locais públicos da cidade.
Uma vergonha, para nós.
As rodoviárias simplesmente foram transformadas em grandes e confortáveis hospedarias, com custo zero, claro!
Muitos visitantes latino-americanos se alojaram na orla carioca. Chegaram com seus trailers e fizeram a festa. Instalaram-se na mais bela praia do mundo e a transformaram o maior banheiro público jamais visto.
Pior aconteceu com alguns chilenos que, sem grana, invadiram o Estádio do Maracanã, agora Arena, no jogo contra a Espanha. Tal fato inédito num evento tão organizado e planejado como esse da FIFA, obrigou o governo a promover a extradição dos baderneiros.
Concluí então, que o que vimos em Cuiabá foi apenas uma “avant première” do nosso potencial de “entusiasmo patriótico”.
Com a limpeza ética, as manifestações de protesto, tanto nos estádios como nas ruas, ficaram por conta da elite que, segundo as palavras de um ex-presidente, não tem educação, apenas dinheiro.
A Copa tem prazo definido para terminar.
E depois? Como enfrentaremos a dura realidade da nossa evidente exclusão social?
Resta agora investir nas fantasias deixadas por esse evento e reavivá-las daqui a dois anos com a chegada das Olimpíadas no Rio de Janeiro.
Somos um país cujo desenvolvimento está atrelado aos eventos esportivos internacionais.
Mais uma vez a criatividade brasileira mostra ao mundo que o nosso famoso jeitinho pode transformar eventos, inicialmente com grande rejeição, em festas populares agregando nações amigas vizinhas ou distantes.
Desde que não apareçam os donos do poder, esses quase sempre odiados pelo povo dessa pobre América Latina.

Gabriel Novis Neves
10-06-2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.