segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Simples solução


Estou pagando caro por um vício que adquiri há mais de sessenta anos - o de ler jornais.
Aqui em Cuiabá, quando eu era bem jovem, meu pai me escalava para ficar de plantão na porta da Livraria e Papelaria Santa Therezinha, ao lado do Bar do Bugre, para esperar a chegada do “O Jornal”, vindo do Rio de Janeiro.
O horário da chegada do lote de jornal era imprevisível – geralmente após as 16 horas. Era transportado pelos antigos aviões DC3.
O avião decolava de madrugada do Rio com os passageiros e os esperados jornais, mas os aviões pousavam na ex-Cidade Verde quando podiam.
Naquela época, criança era proibida de participar das rodas de adultos que se acumulavam à espera do jornal.
O papo rolava solto no bar do meu pai. Desembargadores, juízes, promotores, políticos, profissionais liberais, funcionários públicos letra “O” de penacho, professores, poetas, jornalistas, enfim, a nata da inteligência cuiabana.
Eu ficava sempre de ouvidos atentos, querendo decifrar as coisas que os mais velhos conversavam, especialmente sobre política.
Tudo que é bom nesta vida dura pouco – diz o ditado popular. Deixo a minha cidadezinha para estudar no Rio.
Chegando à minha nova cidade fiquei deslumbrado com a variedade de jornais existentes.
Existiam os jornais matutinos, os vespertinos e os da noite.
Tinha até um especializado em esportes.
Em praticamente toda esquina havia uma imensa banca de jornal. Algumas funcionavam vinte e quatro horas. Sem contar os meninos que vendiam jornais por todas as partes da cidade.
Os meus deslocamentos pela ex-Cidade Maravilhosa quase sempre foram de bonde.
Quando o meu plantão era na Penha, lia quatro jornais: dois na ida e dois na volta.
O vício da leitura de jornal tornou-se para mim crônico e incurável.
Acabo de saborear o meu vício na leitura das mais recentes notícias.
O ex-presidente, que recentemente deixou o cargo como herói nacional, agora foi denunciado na Procuradoria Geral da República como chefe de uma gang que assaltava os cofres públicos.
Sua imagem foi mortalmente atingida perante a opinião pública.
Os marqueteiros do governo estão superpreocupados com os escândalos que brotam abundantemente em todos os níveis de poder, agora em tempo real graças aos modernos meios de comunicação.
Acham que tais notícias irão desconstruir a imagem dos super-heróis que acabaram de deixar o poder em todos os níveis: federal, estadual e municipal.
Esses fatos, sobre o exercício do poder público no Brasil, são a mais doce repetição de tudo que li em mais de meio século, quando o poder muda de dono, apesar de quase todos serem da mesma família.
A única diferença são as fantasias e os nomes dos personagens.
Tudo seria simples de se resolver caso os desvios de conduta praticados pelos nossos governantes fossem divulgados na época do ocorrido.
Havendo o silêncio do zelo e o elogio premiado, geralmente construído pelos marqueteiros pagos com o nosso dinheiro e a sua ampla divulgação, o grande público, que é o eleitor, só tomará conhecimento dos motivos dos seus sofrimentos e do atraso desta nação, após a saída dos seus ídolos do poder.
Agora é tarde.
Sobra o lamento pelo leite derramado, tão simples de ser evitado. 

Gabriel Novis Neves
20-01-2013

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