No
ensino da medicina estamos caminhando na contramão da história.
Atualmente
as nossas escolas estão preparando seus futuros médicos como no início do
século XX, quando a expectativa de vida do brasileiro não atingia os cinquenta
anos.
Continuamos
priorizando certas disciplinas, como obstetrícia e pediatria, quando o índice
de natalidade diminuiu e a expectativa de vida do brasileiro está ultrapassando
os setenta anos.
Quando
entrei na faculdade de medicina nos anos cinquenta, as famílias eram de prole
numerosa. A minha mãe teve nove filhos, e vinha de uma família de somente oito
irmãos, devido à morte prematura da minha avó materna - antes de completar
trinta anos.
Pelo
lado paterno eram dezenove irmãos.
Naquela
época não havia poluição, tampouco essa epidemia de mortes causadas pelo
"progresso" – acidentes de trânsito e violência urbana de múltiplas
causas. Não podemos deixar de citar as produzidas pelas drogas ilícitas e suas
ramificações sociais.
As
escolas do passado formavam excelentes médicos generalistas e humanitários,
voltados, principalmente, à atenção da saúde materno-infantil, à prevenção das
doenças e à educação em saúde.
Com
o aparecimento da tecnologia na medicina sai de cena o médico humanista e entra
o que domina as máquinas.
Como
hoje as famílias ficaram menores e a população está vivendo mais, sentimos
falta do profissional que entenda de idosos.
Antigamente
as crianças eram educadas para serem adultas e o médico do século passado era o
ideal. Tínhamos uma rarefeita população de idosos.
Os
tempos são outros, até o século mudou, mas continuamos a não produzir, em
quantidade suficiente, profissionais para cuidar dos idosos.
Os
lobistas da indústria tecnológica de material médico e farmacológico são os
responsáveis pela formação desse novo perfil profissional.
Não
há país no mundo que suporta os gastos com esse tipo de assistência médica,
quando uma boa anamnese resolveria a maioria das queixas dos pacientes idosos.
Em
breve o Brasil terá grande parte da sua população formada por idosos.
Se
não mudarmos a formação dos estudantes de medicina, a nossa tão injusta saúde,
que é um direito de todos e dever do Estado, sucumbirá como um todo.
Vamos
sair da contramão na formação dos nossos médicos mudando logo o currículo das
nossas escolas médicas?
Só
assim estaremos preparando gente para a nossa realidade.
Gabriel Novis Neves
10-01-2013
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