segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

CONTRAMÃO


No ensino da medicina estamos caminhando na contramão da história.
Atualmente as nossas escolas estão preparando seus futuros médicos como no início do século XX, quando a expectativa de vida do brasileiro não atingia os cinquenta anos.
Continuamos priorizando certas disciplinas, como obstetrícia e pediatria, quando o índice de natalidade diminuiu e a expectativa de vida do brasileiro está ultrapassando os setenta anos.
Quando entrei na faculdade de medicina nos anos cinquenta, as famílias eram de prole numerosa. A minha mãe teve nove filhos, e vinha de uma família de somente oito irmãos, devido à morte prematura da minha avó materna - antes de completar trinta anos.
Pelo lado paterno eram dezenove irmãos.
Naquela época não havia poluição, tampouco essa epidemia de mortes causadas pelo "progresso" – acidentes de trânsito e violência urbana de múltiplas causas. Não podemos deixar de citar as produzidas pelas drogas ilícitas e suas ramificações sociais.
As escolas do passado formavam excelentes médicos generalistas e humanitários, voltados, principalmente, à atenção da saúde materno-infantil, à prevenção das doenças e à educação em saúde.
Com o aparecimento da tecnologia na medicina sai de cena o médico humanista e entra o que domina as máquinas.
Como hoje as famílias ficaram menores e a população está vivendo mais, sentimos falta do profissional que entenda de idosos.
Antigamente as crianças eram educadas para serem adultas e o médico do século passado era o ideal. Tínhamos uma rarefeita população de idosos.
Os tempos são outros, até o século mudou, mas continuamos a não produzir, em quantidade suficiente, profissionais para cuidar dos idosos.
Os lobistas da indústria tecnológica de material médico e farmacológico são os responsáveis pela formação desse novo perfil profissional.
Não há país no mundo que suporta os gastos com esse tipo de assistência médica, quando uma boa anamnese resolveria a maioria das queixas dos pacientes idosos.
Em breve o Brasil terá grande parte da sua população formada por idosos.
Se não mudarmos a formação dos estudantes de medicina, a nossa tão injusta saúde, que é um direito de todos e dever do Estado, sucumbirá como um todo.
Vamos sair da contramão na formação dos nossos médicos mudando logo o currículo das nossas escolas médicas?
Só assim estaremos preparando gente para a nossa realidade.

Gabriel Novis Neves
10-01-2013

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