terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O HOMEM PRIMITIVO


Olho com muita desconfiança o enorme sucesso das lutas MMA nos dias atuais.
Sempre me remeto, nessas ocasiões, ao Coliseu Romano, onde eram realizados vários jogos, em especial o combate entre gladiadores. A multidão, sedenta de sangue, delirava tanto mais quanto maior fosse a violência.
De uma forma mais refinada, os sentimentos da plateia verificados atualmente no transcorrer daquelas lutas, são mais ou menos os mesmos.
Importante notar que esses eventos são considerados esportivos e envolvem grande quantidade de dinheiro e, em razão disto, são fortemente divulgados por todas as mídias.
Num momento em que os homens passam por grandes transformações culturais e estéticas, já se preocupando com cremes, perfumes, plásticas, rejuvenescimento, enfim com o aparecimento do chamado homem metrossexual, o sucesso entre as mulheres dos lutadores do vale tudo talvez tenha um significado bem mais profundo.
No imaginário feminino essas criaturas, portadoras de grande fascínio, simbolizam o resgate do verdadeiro homem primitivo.
Isso justifica a grande plateia feminina nesses embates, sempre muito mais veemente que a masculina na sua histérica torcida.
No dia a dia os seus parceiros pertencem aos mais diversos estereótipos, sejam eles, os homens rolha (sofisticados conhecedores de vinho), homens gourmets (sempre preocupados com harmonizações alimentares e etílicas), homens horta (plantam seu próprio manjericão para fazer a massa perfeita), homens grito de Ossanha (diz que vai, mas não vai), homens umbigo (cujo horizonte não vai além do próprio umbigo), enfim, frutos da grande revolução sexual dos anos 60.
Por outro lado, aquele que se entrega aos seus mais primitivos instintos, é o animal que todos nós queríamos ser, e representa o vitorioso nas lutas diárias da vida.
Ele, com certeza, pode dar os socos que não damos, demonstrar a ira que não extravasamos, praticar a violência que o nosso racional não permite que ocorra.
Sob esse aspecto, essas lutas validam o nosso lado animal. Isso explica o grande sucesso desses embates na humanidade.
Os participantes dessas práticas, não raro, se tornam ao passar dos anos portadores de lesões cerebrais graves, mas, é claro, isso é um mero "detalhe".

Gabriel Novis Neves
10-01-2013

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