sábado, 5 de janeiro de 2013

RIO DO MEU TEMPO


Cheguei ao Rio de Janeiro para estudar no olho do furacão das grandes transformações sociais, políticas, econômicas, educacionais, artísticas, culturais e urbanísticas.
A política apaixonava a população. De um lado o jornalista Carlos Lacerda, com o seu Clube da Lanterna, das mal amadas e dos jovens oficiais da aeronáutica.
Do outro lado, o presidente eleito pelo voto direto, Getúlio Vargas.
Lacerda conseguiu o suicídio do Getúlio, mas o seu candidato Juarez Távora perdeu a eleição presidencial para Juscelino.
Lacerda continuou conspirando para evitar a posse do JK. Não conseguiu.
O Brasil viveu no início do novo governo momentos de provocações, superados pela habilidade do antigo médico da Polícia Militar de Minas Gerais.
A meta do JK era governar cinco anos, com resultados de cinquenta.
Juca Chaves, dentro da sua irreverência, chamou o JK de Presidente Bossa Nova.
Estourava no Rio um movimento artístico cultural contra o pessimismo dos lindos sambas - dor de cotovelo - dos poetas do morro.
“Lábios que beijei” foi substituído pelo “Barquinho”; “Vingança” por “Garota de Ipanema”; “Amélia” por “Noite do meu bem”; “Apito do trem” por “Corcovado”.
Era tudo alegria e amor. Felicidade que os críticos inicialmente chamaram de alienação.
Pode até ser, mas eram lindas as poesias do Vinícius musicadas por Antônio Carlos Jobim.
“Chega de Saudade” pode ser politicamente incorreta, mas é linda. Os inferninhos tomavam conta da zona sul, com a garotada universitária comandada pelo embaixador maldito (Vinícius) e o genial Tom Jobim, sempre com problemas de caixa.
No futebol nascia o maior gênio do futebol mundial – Garrincha -, que veio para desmentir a ciência formal. Em exame físico-mental, o imortal camisa 7 jamais poderia ser aprovado. Mas o gênio existe exatamente para provar que tudo é possível para o ser humano. Ele existe para contrariar o conhecimento formal e mostrar que a nossa ciência é ainda rudimentar.
A Velha Guarda era ainda moça, e o rádio criava as fantasias que se espalhavam por este Brasil, ainda rural, através dos seus inúmeros programas de novelas, auditórios, esportes e o seu mais famoso noticiário, o Repórter Esso.
O Rio de Janeiro era a Cidade Maravilhosa e a capital do Brasil. Inicia-se nesse período a industrialização do país, o esvaziamento do campo e a construção de Brasília, chamada por JK como a marcha para o oeste.
Em 1960 Brasília torna-se capital do Brasil.
O Rio de Janeiro começou a perder o seu charme de capital da República, e eu terminei, nesse ano, o meu curso de medicina.
Novos tempos surgiram e, após quase cinco anos, retornei para Cuiabá.

Gabriel Novis Neves  

29-12-2012

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