Cheguei
ao Rio de Janeiro para estudar no olho do furacão das grandes transformações
sociais, políticas, econômicas, educacionais, artísticas, culturais e
urbanísticas.
A
política apaixonava a população. De um lado o jornalista Carlos Lacerda, com o
seu Clube da Lanterna, das mal amadas e dos jovens oficiais da aeronáutica.
Do
outro lado, o presidente eleito pelo voto direto, Getúlio Vargas.
Lacerda
conseguiu o suicídio do Getúlio, mas o seu candidato Juarez Távora perdeu a
eleição presidencial para Juscelino.
Lacerda
continuou conspirando para evitar a posse do JK. Não conseguiu.
O
Brasil viveu no início do novo governo momentos de provocações, superados pela
habilidade do antigo médico da Polícia Militar de Minas Gerais.
A
meta do JK era governar cinco anos, com resultados de cinquenta.
Juca
Chaves, dentro da sua irreverência, chamou o JK de Presidente Bossa Nova.
Estourava
no Rio um movimento artístico cultural contra o pessimismo dos lindos sambas -
dor de cotovelo - dos poetas do morro.
“Lábios
que beijei” foi substituído pelo “Barquinho”; “Vingança” por “Garota de
Ipanema”; “Amélia” por “Noite do meu bem”; “Apito do trem” por “Corcovado”.
Era
tudo alegria e amor. Felicidade que os críticos inicialmente chamaram de
alienação.
Pode
até ser, mas eram lindas as poesias do Vinícius musicadas por Antônio Carlos
Jobim.
“Chega
de Saudade” pode ser politicamente incorreta, mas é linda. Os inferninhos
tomavam conta da zona sul, com a garotada universitária comandada pelo
embaixador maldito (Vinícius) e o genial Tom Jobim, sempre com problemas de
caixa.
No
futebol nascia o maior gênio do futebol mundial – Garrincha -, que veio para
desmentir a ciência formal. Em exame físico-mental, o imortal camisa 7 jamais
poderia ser aprovado. Mas o gênio existe exatamente para provar que tudo é
possível para o ser humano. Ele existe para contrariar o conhecimento formal e
mostrar que a nossa ciência é ainda rudimentar.
A
Velha Guarda era ainda moça, e o rádio criava as fantasias que se espalhavam
por este Brasil, ainda rural, através dos seus inúmeros programas de novelas,
auditórios, esportes e o seu mais famoso noticiário, o Repórter Esso.
O
Rio de Janeiro era a Cidade Maravilhosa e a capital do Brasil. Inicia-se nesse
período a industrialização do país, o esvaziamento do campo e a construção de
Brasília, chamada por JK como a marcha para o oeste.
Em
1960 Brasília torna-se capital do Brasil.
O
Rio de Janeiro começou a perder o seu charme de capital da República, e eu
terminei, nesse ano, o meu curso de medicina.
Novos
tempos surgiram e, após quase cinco anos, retornei para Cuiabá.
Gabriel Novis Neves
29-12-2012
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