domingo, 20 de janeiro de 2013

Horóscopo


Há um tempo perguntei a um antigo e tarimbado jornalista, editor do jornal mais lido da cidade, qual a seção preferida pelos leitores.
Sem pensar ele me respondeu: “horóscopo”.
Fiquei surpreso. Imaginava que política, futebol e coluna social seriam os vencedores dessa pesquisa empírica.
Os anos se passaram e, quase ao “dobrar o cabo da boa esperança,” comecei a escrever para jornais.
Todas as vezes que encaminho os meus artigos para a redação lembro-me do velho jornalista.
Os adversários que havia escolhido – política, futebol e sociedade, continuam fortíssimos concorrentes para um articulista amador.
Imagino ter que enfrentar uma coluna que advinha o futuro das pessoas baseado no estudo do sol, da lua e dos planetas!
Com uma atração irresistível na pátria das superstições, quem teria ainda tempo disponível para uma olhadela na seção dos articulistas?
Iniciei então a prestar atenção nas pessoas que leem horóscopo através de perguntas discretas, porém especulativas.
Sem o apoio de qualquer instituto de pesquisa, fiquei impressionado com o número elevado de leitores que mantém o hábito de consultar o seu futuro antes das manchetes dos jornais.
Eu mesmo me descobri um dependente na leitura dessas diárias previsões, seja no trabalho, no amor ou saúde.
Interessante, é que o leitor do horóscopo não comenta o seu prognóstico do dia, a não ser para pessoas da sua mais absoluta confiança.
A futurologia, mesmo sendo considerada uma ciência astrológica, sofre tremenda discriminação dos materialistas.
Politicamente não é correto falar sobre esse assunto, embora seja o predileto dos políticos.
Na Bahia, o horóscopo do dia corre três vezes: manhã, tarde e noite – nos moldes do jogo do bicho.
O enorme sucesso dessa leitura é que ela é curta e o seu esquecimento é imediato, não alugando massa encefálica.
Pelo menos comigo é assim. Leio com atenção o que os astros dizem e, no final da leitura do jornal, não me lembro mais das recomendações
Dia desses recebi um telefonema de um colega exultante com a leitura do meu horóscopo.
Enquanto ouvia a leitura sobre o meu futuro, esforçava-me para lembrar daquilo que tinha lido cedo no meu jornal.
A felicidade do meu colega me contagiou, não sobre o planejamento traçado pelos astros para este complemento de tempo, mas por saber que tenho amigo.
Reconheci no telefonema um especial amigo, embora já tivesse esquecido, ao desligar o telefone, a previsão do meu horóscopo.

Gabriel Novis Neves
16-01-2013

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