Os
mais velhos sabem muito bem a falta que fazem os antigos médicos de família.
Aquela
pessoa cheia de generosidade era mais que um simples médico, era um amigo.
Estava sempre presente nos momentos de dor física ou mental, aliás, muito
misturadas.
Esses
seres eram venerados pelos membros de um mesmo clã, e assim permaneciam por
várias décadas monitorando a saúde de todos.
Nos
tempos modernos esse personagem foi substituído pela tecnologia. Hoje em dia,
os exames complementares sofisticados são sempre considerados mais importantes
do que uma boa anamnese.
Na
anamnese o médico da família incitava seus pacientes a falarem de suas
angústias e medos. Muitas das vezes os seus males eram oriundos desses
sentimentos.
A
catarse, tão necessária, já estaria sendo adiada. Aprendemos no dia a dia que
tempo é dinheiro e, portanto, papos longos são onerosos e desnecessários.
Tudo
isso na contramão da medicina preventiva. Ela já provou que os distúrbios
funcionais são gritos de alerta dados pelo nosso organismo e que, se detectados
através de uma boa anamnese, inúmeras doenças podem ser evitadas.
Homeopatas
ou qualquer outro médico praticante da medicina alternativa – como a chinesa –
valorizam, e muito, o estado emocional de seus pacientes. Razão pela qual
dedicam um grande tempo a essa etapa verbal da consulta.
As
várias religiões, que também cumpriam esse papel de receptores de confidências,
foram minimizando essas práticas. O desabafo nas confissões foi substituído
pela cantoterapia que, apesar de eficiente, está sempre voltada para o rebanho,
e nunca para as problemáticas individuais.
Finalmente,
as diversas psicoterapias, através de suas várias correntes, são inacessíveis
às pessoas de baixa renda, ou seja, a grande maioria.
Com
um pouco de sorte, jovens encontram essa abertura nas pessoas mais velhas. Na
maioria das vezes os idosos, pelas suas experiências culturais e vivenciais,
são ótimos ouvintes. Ouvem carinhosamente os que os procuram – geralmente netos
e bisnetos. Não julgam, compreendem.
A
tecnologia anda a passos gigantes. Quem sabe em vinte anos não teremos a
assustadora máquina médica como substituta da máquina humana, desaparecendo
assim a profissão de médico?
Ao
apertar um simples botão, faríamos uma catarse completa e recarga energética
imediata.
A
solidão humana é de tal ordem nesse mundo pós-moderno, que os jovens postam
seguidamente seus atos e suas vidas nas inúmeras redes sociais do momento.
Carentes
de quem os ouçam e os compreendam, tentam desesperadamente, e em conjunto, um
pedido de socorro, já que o empobrecimento das suas trocas afetivas é
devastador.
Gabriel Novis Neves
10-01-2013
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