Preparei-me
para viver um século sem depender de ninguém. Herdei uma ótima genética. E ao
longo da minha vida tive muito cuidado em não danificá-la.
Quando
a expectativa de vida do brasileiro era de cinquenta anos, o meu pai, sem
nenhuma preocupação em viver bastante para um possível recorde, chegou fácil
aos oitenta e oito anos.
Casou-se
aos quarenta anos. Nove filhos foram gerados, e todos nascidos em casa.
Minha
mãe ficou órfã de mãe aos vinte e oito anos. Foi criada por parentes e
viveu até aos noventa e dois anos.
A
média de vida na minha família é de noventa anos.
Estou
encostando aos setenta e oito anos, e acho que irei ultrapassar o meu planejamento.
Para
quem nasceu antes dos antibióticos, vacinas, médicos especialistas, quando a
tecnologia médica era o humanismo, chegar aonde cheguei é uma vitória
antecipada de um campeonato ainda não terminado.
Embora
com forças físicas e mentais em bom estado de conservação e levando uma vida
modesta, estou sempre a depender de pequenas ajudas. Simples ajudas.
Aquele
discurso que nascemos com a genética para vivermos em comunidade não é
verdadeiro.
Sobrevivemos
na solidão, mesmo não sendo portadores da lesão do núcleo afetivo - como
acontece na esquizofrenia.
O
mundo globalizado pariu a desconstrução de velhos reflexos tribais onde um vive
para todos e todos por um.
Só
quem visitou uma aldeia de índios lembra que há povos que ainda não perderam
esses hábitos dos seus ancestrais.
O
cérebro das novas gerações sofreu esse processo de desarrumação dos neurônios
afetivos, criando o homem moderno sem sentimentos.
Viver
dependente de auxiliares profissionais, que com o aumento da expectativa de
vida tornaram-se cada vez mais numerosos, é uma tragédia que a maioria dos
idosos enfrenta.
A
sociedade elaborou, para o seu conforto, um protocolo pasteurizado
condicionando como deve ser tratado o teimoso planejador da longevidade.
Até
morrer é permitido, desde que em UTI, onde o infeliz passa solitário o seu
último dia neste planeta.
Temos
que nos mirar no exemplo dos animais irracionais, estes são sempre solidários e
vivem em grupos.
Não
depender de ninguém para uma longa vida só estando em bandos, onde a
independência é normal.
Impossível
executar o nosso ideal, que é viver sem ajudas.
Gabriel Novis Neves
05-12-2012
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