Desde
os primórdios da humanidade até os dias de hoje, os estudiosos da arte de curar
têm a dor como uma das suas principais preocupações. Tentam entender e
controlar a sua ocorrência.
Os
povos antigos atribuíam a dor aos maus espíritos e acreditavam que era uma
espécie de punição por atos faltosos cometidos. A medicina era então exercida
por sacerdotes, que invocavam os serviços dos deuses para a cura da dor. Eles
se utilizavam de remédios naturais, e ofereciam preces e sacrifícios aos deuses
que, agradecidos, proporcionavam alívio ao doente.
Não
vou discorrer aqui sobre a evolução da história da dor ao longo desses séculos.
Só registrar que ela foi um dos fatores que mais afetaram o curso da história
humana, pois que acometeu e acomete a população mundial indiscriminadamente.
Atualmente,
de acordo com a “International Association for Study of Pain” (IASP), “a dor é
uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a uma lesão
tissular real ou potencial”. A IASP destaca ainda “o reconhecimento de que a
dor é complexa, subjetiva e sujeita às particularidades de cada indivíduo,
envolvendo dimensões afetivas, interpretativas e comportamentais, além das
fisiológicas e sensoriais”.
E
é dessa dor que escrevo hoje: a dor afetiva, emocional e psíquica. Hoje, a
neurociência já descobriu que mente e cérebro são indissociáveis e que aquela
angústia ou depressão, por exemplo, podem ser muito mais intensa que a dor de
uma fratura - é o que nos explica a psicóloga Dra. Dirce Perissinotti. E ela
vai mais além: “o sofrimento psíquico imposto por um evento doloroso muitas
vezes é
mais
devastador que a própria lesão”.
Já
existe psicanálise só para aliviar as dores motivadas pelos conflitos emocionais.
Os
boêmios costumam chamar a dor psíquica de ‘dor de cotovelo’.
À
moda dos antigos sacerdotes, os boêmios têm sua terapêutica médica para a cura
de qualquer dor: à noite, dança ao som de muita música ao vivo, com
sax, trompete, instrumentos de corda e ritmistas acompanhando boleros, samba
canções, sambas de roda e todo tipo da gostosa música cafona feita sob medida
para curar a dor de cotovelo. Ah, sim! Uma geladinha para potencializar os
efeitos da loira do colarinho branco, e pronto. Eis a cura para qualquer dor.
Ao
sol raiar, ninguém deixará ‘o pronto atendimento’ noturno com dores.
As
dores físicas, quase não existem mais com os modernos fármacos e as suas mais
variadas vias de acesso, feitas com total segurança.
Em
um procedimento cirúrgico o mais seguro de todos em nossos dias é o anestésico,
embora o paciente pense sempre o contrário.
Há
poucos dias fui submetido a uma punção no meu joelho, desgastado pelo tempo de
uso. As pessoas me perguntaram sobre o tamanho da agulha e se tinha sentido dor.
Para dizer a verdade não vi o tamanho da ‘perfuradora’, e dor não senti.
A
analgesia decretou o final da dor física. Entretanto, não conseguimos nos
livrar das dores psíquicas, ou como dizem os poetas - as dores da alma.
Essa
máquina maravilhosa que é o nosso cérebro, ou ‘célebro’, como batizou o mais
novo avecista do Porto, não aceita fantasias da indústria farmacêutica, mesmo
amparada pela mais sofisticada das mídias.
Estive
doente por esses dias e percorri todos os caminhos por mim conhecidos em busca
da minha cura. Melhorei, é verdade. Mas, a dor nos leva a percorrer outros
caminhos.
E
foi o que fiz. Embrenhei-me por um totalmente desconhecido. No início deste
percurso, o desconhecido causou grande turbulência em minha alma. Mas, por fim,
ele se tornou o meu mais caro aliado para a cessação das minhas dores.
A
mente e o cérebro são indissociáveis. Entrei, pela dor, na medicina do séc.
XXI.
Esta
experiência me fez lembrar John Lennon: “Não se drogue por não ser capaz de
suportar sua própria dor. Eu estive em todos os lugares e só me encontrei em
mim mesmo”.
Gabriel Novis Neves
30-11-2012
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