São
enciclopédicas as causas das dores. Quem nunca teve, pelo menos, vinte tipos de
dores banais?
Uma
leve cefaleia, a dor da retirada da cutícula da unha - vulgarmente chamada de
bife pela manicure. Da frustração de uma derrota esportiva não programada. De
um amor não correspondido e tantas outras.
A
dor diferente é difícil de ser traduzida em palavras na telinha do computador.
Simplesmente porque ela é a dor diferente.
É
aquela que silenciosamente mostra o que todos sabemos. Não somos eternos. É a
dor da saudade, que é a “presença da ausência“.
A
dor da diminuição. Da subtração. A dor que não respeita a hierarquia de
posições sociais, tampouco o princípio da cronologia do nosso nascimento.
Em
família numerosa quantas vezes essa dor diferente é inaceitável para a fila
racional da disciplina natalina.
De
causas acidentais ou patológicas, elas produzem um agravamento doloroso aos que
presenciam a sua fase terminal - quando a esperança desaparece.
Se
na medicina a lógica é objeto de luxo, diante de forças imponderáveis fica
impossível utilizar a razão.
A
dor diferente é resistente a qualquer tipo de tratamento imediatista.
Apenas
o tempo, o mais santo dos remédios, consegue minorar a dor diferente em sua
fase aguda, embora deixando sempre em nós a lembrança traumatizante.
Penso
nas famílias que tiveram os seus entes queridos mortos em guerras onde eram
inocentes.
Na
violência das nossas cidades onde multidões matam simplesmente pelo prazer de
matar.
No
incontrolável assassinato das crianças abandonadas nas ruas por causas as mais
variáveis, dentre as quais o desamor e uso das drogas ilícitas.
Nestes
casos a morte também é banalizada, com a sua chegada muito antes do tempo da
vida.
A
dor diferente sempre foi a patologia mais frequente da humanidade.
Todos
os dias ela nos corrói, cada vez em um segmento social.
Pode
ser produzida pela morte de um ente querido, ou mesmo de um país que tem tudo
para ser melhor.
Devemos
nos preparar para a experiência sem horário da nossa dor diferente.
Gabriel Novis Neves
28/11/2012
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