A
metamorfose é um potente sinal de boa saúde física e mental.
Aqueles
que vivem enquadrados na vida linear, com receio de agir de forma politicamente
incorreta, de arranhar as normas sociais vigentes, de viver como as pessoas
gostariam que eles fossem, são seres em pleno processo de autodestruição.
Não
podemos aceitar a metamorfose produzida pelo poder material, em que valores
humanísticos e éticos são abandonados e substituídos por bens que não estarão
conosco na nossa última morada.
Abandonar
o hipócrita mundo social das “zelites” doando-se a um viver mais simples é uma
metamorfose terapêutica.
Passar
uma noite longe das solenidades sociais, tão carregadas de inúteis protocolos e
etiquetas, é uma prazerosa terapia de bem viver.
Aquelas,
só servem como cabide de emprego para poucos privilegiados dos apaniguados, que
sempre tem um “tio” que a tudo resolve e que exalam um desagradável odor do
passado.
As
famosas e requintadas recepções, sempre realizadas em espaços altamente
competitivos, contrastam com a simplicidade da antiga cidade quando, do
nascimento à morte, tudo era realizado em casa.
Os
que rejeitam a metamorfose desse jeito protocolar de viver para experimentar
uma forma mais simples e descompromissada de levar a vida, não sabem que a
felicidade é tão fácil de ser encontrada! E ela se encontra bem perto de nós. Cito,
por exemplo, o “Bulixo Cuiabano”.
Sentado
em mesa de bar de ponta de rua, fui servido pela Cumadre Pitú, sempre vigiada
pelo seu ciumento esposo Generoso - um poconeano arretado - e pelo
garçom-cantor Edmilson, um galã do século passado, especialista em arrebatar
corações desprevenidos.
A
cumadre Pitú, coitada, é a que mais trabalha no Bulixo. Conversa de mesa em
mesa com os fregueses, sempre querendo bisbilhotar a vida alheia. Atende
telefone, serve salgadinhos em pratos de papelão e bebida a escolher, com
moderação.
Licor
cuiabano, cerveja, pinga ou água servidos em copo de queijo cremoso de paredes
espessas de vidro.
A
freguesia do melhor nível humano, representando todas as classes rejeitadas por
seus trabalhos pela sociedade pasteurizada.
O
ator Rui, que interpreta várias cantoras da época de ouro do rádio, com as suas
canções tipo dor de cotovelo.
Tuiuiú,
o fotógrafo da Lixeira, um autodidata apaixonado pelo que faz.
Atleta
Perereca, goleiro do Mixto, campeão de futebol que representará Cuiabá na próxima
Copa do Brasil.
Jovem
dupla de excelentes cantores sertanejos do município de Rosário Oeste, já com
três CDs na praça.
Para
dar um ar cultural ao ambiente, o empresário Zé Mota e assessores trouxeram
como surpresa nesta noite inesquecível, a turma da artesã Domingas, de São
Gonçalo.
Flor
Ribeirinha é um famoso grupo especializado em música folclórica regional.
Cantam e dançam o siriri com a matriarca Domingas, toda bonitona comandando o
pessoal, na maioria composta por filhos e netos.
De
uma plasticidade visual simplesmente fantástica.
Durante
a minha permanência no Bulixo constatei a eficiência do Edmilson e da cumadre
Pitú para que seus fregueses usufruíssem do principal produto servido – a
felicidade.
Recomendo
o Bulixo para aqueles que precisam de um empurrãozinho para a sua metamorfose.
Gabriel Novis Neves
01-12-2012
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