segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Metamorfose


A metamorfose é um potente sinal de boa saúde física e mental.
Aqueles que vivem enquadrados na vida linear, com receio de agir de forma politicamente incorreta, de arranhar as normas sociais vigentes, de viver como as pessoas gostariam que eles fossem, são seres em pleno processo de autodestruição.
Não podemos aceitar a metamorfose produzida pelo poder material, em que valores humanísticos e éticos são abandonados e substituídos por bens que não estarão conosco na nossa última morada.
Abandonar o hipócrita mundo social das “zelites” doando-se a um viver mais simples é uma metamorfose terapêutica.
Passar uma noite longe das solenidades sociais, tão carregadas de inúteis protocolos e etiquetas, é uma prazerosa terapia de bem viver.
Aquelas, só servem como cabide de emprego para poucos privilegiados dos apaniguados, que sempre tem um “tio” que a tudo resolve e que exalam um desagradável odor do passado.
As famosas e requintadas recepções, sempre realizadas em espaços altamente competitivos, contrastam com a simplicidade da antiga cidade quando, do nascimento à morte, tudo era realizado em casa.
Os que rejeitam a metamorfose desse jeito protocolar de viver para experimentar uma forma mais simples e descompromissada de levar a vida, não sabem que a felicidade é tão fácil de ser encontrada! E ela se encontra bem perto de nós. Cito, por exemplo, o “Bulixo Cuiabano”.
Sentado em mesa de bar de ponta de rua, fui servido pela Cumadre Pitú, sempre vigiada pelo seu ciumento esposo Generoso - um poconeano arretado - e pelo garçom-cantor Edmilson, um galã do século passado, especialista em arrebatar corações desprevenidos.
A cumadre Pitú, coitada, é a que mais trabalha no Bulixo. Conversa de mesa em mesa com os fregueses, sempre querendo bisbilhotar a vida alheia. Atende telefone, serve salgadinhos em pratos de papelão e bebida a escolher, com moderação.
Licor cuiabano, cerveja, pinga ou água servidos em copo de queijo cremoso de paredes espessas de vidro.
A freguesia do melhor nível humano, representando todas as classes rejeitadas por seus trabalhos pela sociedade pasteurizada.
O ator Rui, que interpreta várias cantoras da época de ouro do rádio, com as suas canções tipo dor de cotovelo.
Tuiuiú, o fotógrafo da Lixeira, um autodidata apaixonado pelo que faz.
Atleta Perereca, goleiro do Mixto, campeão de futebol que representará Cuiabá na próxima Copa do Brasil.
Jovem dupla de excelentes cantores sertanejos do município de Rosário Oeste, já com três CDs na praça.
Para dar um ar cultural ao ambiente, o empresário Zé Mota e assessores trouxeram como surpresa nesta noite inesquecível, a turma da artesã Domingas, de São Gonçalo.
Flor Ribeirinha é um famoso grupo especializado em música folclórica regional. Cantam e dançam o siriri com a matriarca Domingas, toda bonitona comandando o pessoal, na maioria composta por filhos e netos.
De uma plasticidade visual simplesmente fantástica.
Durante a minha permanência no Bulixo constatei a eficiência do Edmilson e da cumadre Pitú para que seus fregueses usufruíssem do principal produto servido – a felicidade.
Recomendo o Bulixo para aqueles que precisam de um empurrãozinho para a sua metamorfose.

Gabriel Novis Neves
01-12-2012

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