“Esta
vida é uma estranha hospedaria, de onde se parte quase sempre às tontas, pois
nunca as nossas malas estão prontas, e a nossa conta nunca está em dia”. (Mário
Quintana).
Durante
cinquenta e sete anos fomos nove irmãos - cinco mulheres e quatro homens.
Filhos
de Olyntho Neves e Irene Novis Neves.
Com
seu humor imortal, minha mãe nos chamava de “Nove Neves”.
Quis
o destino, fugindo a toda hierarquia, fisiologia e razão, que o filho de número
seis fosse o primeiro a ser abatido e abandonasse a fila.
Foi
fácil garantir essa invencibilidade de vida saudável por mais de meio século,
produto da herança genética herdada dos nossos pais, onde a expectativa de vida
foi de noventa anos. Bugre nos deixou aos oitenta e oito anos e Irene aos
noventa.
O
equilíbrio da fila foi desmontado na sua parte terminal, indicando insegurança
para os da frente, e principalmente para os três últimos - se houvesse lei da
gravidade na biologia.
A
tendência agora é a repetição das perdas e a diminuição da fila até o seu
final.
Assim
é a vida.
Alguns
acreditam que a ordem de chamada para a eternidade é feita por méritos – os
bons são sempre os primeiros a serem chamados. Outros creem que seja algum tipo
de sorteio.
A
verdade é que não existem ou desconhecemos os critérios utilizados.
Injustiça
jamais!
Espero
que demore alguns anos para nova separação dos “Nove” - agora “Oito” - por
tempo indeterminado.
A
religiosidade de cada um determinará quando e onde será esse reencontro.
Não
gosto de pensar nessa viagem obrigatória. Medo? Não sinto. Sinto uma grande
tristeza quando penso que terei que abandonar esta vida.
Tecnicamente
preencho todos os requisitos para ser o próximo a deixar a fila. Afinal, tenho
a condição privilegiada de ser o número um.
Concordo
com o meu poeta Mário Quintana: “Morrer que me importa? O diabo é deixar de
viver”.
“A
vida é tão boa! Não quero ir embora... O próprio viver é morrer, porque não
temos um dia a mais na nossa vida de que não tenhamos, nisso, um dia a menos
dela”. (Fernando Pessoa).
Quero
esgotar toda a felicidade que encontro dentro de mim, tarefa que demorará
muitos anos pelo volume acumulado.
Desejo
viajar sem bagagem alguma, para encontrar uma vida melhor para todos.
Adeus
Tieta! E até qualquer instante.
Gabriel Novis Neves
05-12-2012
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