segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Éramos nove


“Esta vida é uma estranha hospedaria, de onde se parte quase sempre às tontas, pois nunca as nossas malas estão prontas, e a nossa conta nunca está em dia”. (Mário Quintana).
Durante cinquenta e sete anos fomos nove irmãos - cinco mulheres e quatro homens.
Filhos de Olyntho Neves e Irene Novis Neves.
Com seu humor imortal, minha mãe nos chamava de “Nove Neves”.
Quis o destino, fugindo a toda hierarquia, fisiologia e razão, que o filho de número seis fosse o primeiro a ser abatido e abandonasse a fila.
Foi fácil garantir essa invencibilidade de vida saudável por mais de meio século, produto da herança genética herdada dos nossos pais, onde a expectativa de vida foi de noventa anos. Bugre nos deixou aos oitenta e oito anos e Irene aos noventa.
O equilíbrio da fila foi desmontado na sua parte terminal, indicando insegurança para os da frente, e principalmente para os três últimos - se houvesse lei da gravidade na biologia.
A tendência agora é a repetição das perdas e a diminuição da fila até o seu final.
Assim é a vida.
Alguns acreditam que a ordem de chamada para a eternidade é feita por méritos – os bons são sempre os primeiros a serem chamados. Outros creem que seja algum tipo de sorteio.
A verdade é que não existem ou desconhecemos os critérios utilizados.
Injustiça jamais!
Espero que demore alguns anos para nova separação dos “Nove” - agora “Oito” - por tempo indeterminado.
A religiosidade de cada um determinará quando e onde será esse reencontro.
Não gosto de pensar nessa viagem obrigatória. Medo? Não sinto. Sinto uma grande tristeza quando penso que terei que abandonar esta vida.
Tecnicamente preencho todos os requisitos para ser o próximo a deixar a fila. Afinal, tenho a condição privilegiada de ser o número um.
Concordo com o meu poeta Mário Quintana: “Morrer que me importa? O diabo é deixar de viver”.
“A vida é tão boa! Não quero ir embora... O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida de que não tenhamos, nisso, um dia a menos dela”. (Fernando Pessoa).
Quero esgotar toda a felicidade que encontro dentro de mim, tarefa que demorará muitos anos pelo volume acumulado.
Desejo viajar sem bagagem alguma, para encontrar uma vida melhor para todos.
Adeus Tieta!  E até qualquer instante.

Gabriel Novis Neves
05-12-2012

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