sábado, 1 de dezembro de 2012

Cronista


O cronista é um fotógrafo compulsivo que valoriza nos seus textos, não só os grandes momentos, mas, com a mesma intensidade, fatos que, de tão simples, passam despercebidos pela maioria das pessoas.
Quando a barata voadora merece da minha parte a mesma atenção que um pensamento de Platão, as interpretações dos leitores são as mais variadas possíveis e surpreendentes.
Os eruditos, pejorativamente, classificam essa verdade como um assunto pueril ou infantil.
Outros entendem que isso faz parte do meu cotidiano, despercebidos pelas lentes da cultura, muitas vezes inútil.
Assim como o fotógrafo, o cronista registra fatos reais da humanidade, desde um quadro de Leonardo da Vinci à beleza incomparável do caminhar de cordões de formigas em direção a sua bem planejada casa.
Cedo aprendi a valorizar pequenas coisas em detrimento da idolatria pelas etiquetas.
Não tenho o mínimo constrangimento social em me expor como personagem do nosso inesgotável e gostoso cotidiano.
Escrevo movido pela minha cultura amazônica, onde tudo é belo e simples.
A pureza da grandiosidade do meio ambiente produz em mim um embotamento das belezas encontradas em continentes decadentes, e que constituem patrimônio da humanidade.
Tudo na Amazônia é incomparável. Os povos das florestas, que só em meu Mato Grosso constituem trinta e oito civilizações pré-colombianas com o seu próprio idioma e cultura, devem ser entendidos, valorizados e preservados.
Suas matas altas onde o sol não penetra para aquecer as suas terras ricas na sua fauna e flora.
Seus rios caudalosos e agressivos na sua beleza natural.
O barulho das inúmeras cachoeiras e da passagem do vento.
Ah! A sabedoria do equilíbrio ecológico que, maltratado pelo homem civilizado, reage de maneira imprevisível.
Tudo por aqui é infantil, dizia o grande poeta amazônico Thiago de Melo, morador da região. Ele defende que um adulto deveria confiar em outro adulto, como uma criança confia em outra criança.
Na Amazônia desejamos sempre seguir os exemplos das crianças, que são verdadeiros adultos na arte de ensinar a viver bem.
O mundo glamouroso das futilidades de outras civilizações não nos seduz.
Poliglota no Brasil do consumo, e escravo do modismo de fora, é falar inglês, francês e alemão.
Achar belo tudo que é banhado por água salgada.
Aqui, onde “Moro onde não mora ninguém,” poliglota é falar apenas um dos trinta e oito idiomas dessas civilizações de água doce.
O cronista seria um idiota pueril?

Gabriel Novis Neves
29-11-2012

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