O
cronista é um fotógrafo compulsivo que valoriza nos seus textos, não só os
grandes momentos, mas, com a mesma intensidade, fatos que, de tão simples,
passam despercebidos pela maioria das pessoas.
Quando
a barata voadora merece da minha parte a mesma atenção que um pensamento de
Platão, as interpretações dos leitores são as mais variadas possíveis e
surpreendentes.
Os
eruditos, pejorativamente, classificam essa verdade como um assunto pueril ou
infantil.
Outros
entendem que isso faz parte do meu cotidiano, despercebidos pelas lentes da
cultura, muitas vezes inútil.
Assim
como o fotógrafo, o cronista registra fatos reais da humanidade, desde um
quadro de Leonardo da Vinci à beleza incomparável do caminhar de cordões de
formigas em direção a sua bem planejada casa.
Cedo
aprendi a valorizar pequenas coisas em detrimento da idolatria pelas etiquetas.
Não
tenho o mínimo constrangimento social em me expor como personagem do nosso
inesgotável e gostoso cotidiano.
Escrevo
movido pela minha cultura amazônica, onde tudo é belo e simples.
A
pureza da grandiosidade do meio ambiente produz em mim um embotamento das
belezas encontradas em continentes decadentes, e que constituem patrimônio da
humanidade.
Tudo
na Amazônia é incomparável. Os povos das florestas, que só em meu Mato Grosso
constituem trinta e oito civilizações pré-colombianas com o seu próprio idioma
e cultura, devem ser entendidos, valorizados e preservados.
Suas
matas altas onde o sol não penetra para aquecer as suas terras ricas na sua
fauna e flora.
Seus
rios caudalosos e agressivos na sua beleza natural.
O
barulho das inúmeras cachoeiras e da passagem do vento.
Ah!
A sabedoria do equilíbrio ecológico que, maltratado pelo homem civilizado,
reage de maneira imprevisível.
Tudo
por aqui é infantil, dizia o grande poeta amazônico Thiago de Melo, morador da
região. Ele defende que um adulto deveria confiar em outro adulto, como uma
criança confia em outra criança.
Na
Amazônia desejamos sempre seguir os exemplos das crianças, que são verdadeiros
adultos na arte de ensinar a viver bem.
O
mundo glamouroso das futilidades de outras civilizações não nos seduz.
Poliglota
no Brasil do consumo, e escravo do modismo de fora, é falar inglês, francês e
alemão.
Achar
belo tudo que é banhado por água salgada.
Aqui,
onde “Moro onde não mora ninguém,” poliglota é falar apenas um dos trinta e
oito idiomas dessas civilizações de água doce.
O
cronista seria um idiota pueril?
Gabriel Novis Neves
29-11-2012
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