Não
conheço nada mais destruidor que o dinheiro e, nada mais animador quanto.
Exatamente dessa ambiguidade é que está surgindo este texto.
Bombas
atômicas, atos terroristas, conflitos
sociais, guerras sempre inúteis, a luta pelo poder, apenas pelo poder, não se
se comparam ao efeito deletério e irracional do dinheiro, sempre a tudo isso
vinculado.
Era
criança, tinha mais ou menos dez anos de idade e, durante as férias escolares
ficava ao lado do meu pai no Caixa do Bar do Bugre.
Observava
a alegria dele como empresário sabendo que esse dinheiro ganho iria gerar mais
dinheiro, quando o movimento da casa era grande.
De
vez em quando retirava certa quantidade de notas de cruzeiros (moeda da época)
que entupiam as gavetas da sua enorme e linda máquina prateada inglesa, movida
à manivela.
Guardava
essa massa de papel valorizado na enorme “burra” verde (cofre com segredo), que
ficava em um pequeno e desorganizado escritório, nos fundos do estabelecimento
comercial, longe da vista dos fregueses.
Já
o profissional liberal com o seu trabalho, direciona despreocupadamente o
aumento do seu capital para investimento em si mesmo sabendo que o seu capital científico definirá
a qualquer momento a sua
manutenção. Ele não trabalha com o dinheiro, muito ao contrário, esse é fruto
das suas qualidades profissionais.
Para
os que trabalham apenas com o metal tais como empresários, comerciantes,
investidores, o insight é completamente diverso pois é o próprio dinheiro que
deverá se reproduzir por si próprio. Assim funciona a sociedade capitalista.
O
dinheiro é um fator de desagregação de nações e famílias. Invade o passado e
tem poder de crueldade. Frequentemente, amesquinha as pessoas.
Onde
há dinheiro dificilmente existe a ética, a paz e o amor. Em seu lugar brotam a
inveja, a mentira e a inevitável competição, destruindo algumas vezes, amizades
anteriormente consideradas sólidas.
Dinheiro
é poder no seu mais desprezível nível, exercendo todos os malefícios e os
benefícios que ele propicia.
Ele
é necessário para que não soframos humilhações ao depender de terceiros para
ter acesso às coisas mais elementares, para o mínimo de uma vida digna.
Quantos
são humilhados pela fome, pela doença, pela
falta de um medicamento e de um pedaço de chão para se abrigar.
Essas
distorções não existem entre os mais abastados. Estes, usam e abusam do
supérfluo que passa a funcionar com o maior dos vícios.
Devemos
não esquecer que do nosso trabalho, visando um futuro independente, existem as
perdas históricas que fazem parte da nossa estrutura social.
Lazer
e bem estar são investimentos que o dinheiro propicia a quem fez por merecer e,
a sua falta nunca poderá ser motivo para agressões ou chantagens.
Admiro
como o garimpeiro trata o dinheiro. Vivi essa experiência andando por este
imenso Estado, estudando esse segmento da nossa sociedade. O ganho durante
meses de muito trabalho é gasto com prazeres até o último tostão quando tudo é
recomeçado sem amarguras, mas, com recordações inesquecíveis.
É
a felicidade do recomeço. Os sonhos se sustentam, mesmo com as turbulências que
a vida nos apronta.
Destruir
um passado não me parece a forma mais correta de administrar uma transitória
dificuldade econômica.
Enfim,
sempre que a relação com o dinheiro começa a interferir nas relações básicas consigo mesmo e com os
circunstantes, é hora de avaliar o grau de neurose que nos aprisiona.
Gabriel
Novis Neves
07-05-2014
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