quarta-feira, 14 de maio de 2014

DINHEIRO

Não conheço nada mais destruidor que o dinheiro e, nada mais animador quanto. Exatamente dessa ambiguidade é que está surgindo este texto.
Bombas atômicas, atos terroristas,  conflitos sociais, guerras sempre inúteis, a luta pelo poder, apenas pelo poder, não se se comparam ao efeito deletério e irracional do dinheiro, sempre a tudo isso vinculado.
Era criança, tinha mais ou menos dez anos de idade e, durante as férias escolares ficava ao lado do meu pai no Caixa do Bar do Bugre.
Observava a alegria dele como empresário sabendo que esse dinheiro ganho iria gerar mais dinheiro, quando o movimento da casa era grande.
De vez em quando retirava certa quantidade de notas de cruzeiros (moeda da época) que entupiam as gavetas da sua enorme e linda máquina prateada inglesa, movida à manivela.
Guardava essa massa de papel valorizado na enorme “burra” verde (cofre com segredo), que ficava em um pequeno e desorganizado escritório, nos fundos do estabelecimento comercial, longe da vista dos fregueses.
Já o profissional liberal com o seu trabalho, direciona despreocupadamente o aumento do seu capital para investimento em si mesmo  sabendo que o seu capital científico  definirá  a qualquer momento a  sua manutenção. Ele não trabalha com o dinheiro, muito ao contrário, esse é fruto das suas qualidades profissionais.
Para os que trabalham apenas com o metal tais como empresários, comerciantes, investidores, o insight é completamente diverso pois é o próprio dinheiro que deverá se reproduzir por si próprio. Assim funciona  a sociedade capitalista.
O dinheiro é um fator de desagregação de nações e famílias. Invade o passado e tem poder de crueldade. Frequentemente, amesquinha as pessoas.
Onde há dinheiro dificilmente existe a ética, a paz e o amor. Em seu lugar brotam a inveja, a mentira e a inevitável competição, destruindo algumas vezes, amizades anteriormente consideradas sólidas.
Dinheiro é poder no seu mais desprezível nível, exercendo todos os malefícios e os benefícios que ele propicia.
Ele é necessário para que não soframos humilhações ao depender de terceiros para ter acesso às coisas mais elementares, para o mínimo de uma vida digna.
Quantos são humilhados pela fome, pela doença, pela  falta de um medicamento e de um pedaço de chão para se abrigar.
Essas distorções não existem entre os mais abastados. Estes, usam e abusam do supérfluo que passa a funcionar com o maior dos vícios.
Devemos não esquecer que do nosso trabalho, visando um futuro independente, existem as perdas históricas que fazem parte da nossa estrutura social.
Lazer e bem estar são investimentos que o dinheiro propicia a quem fez por merecer e, a sua falta nunca poderá ser motivo para agressões ou chantagens.
Admiro como o garimpeiro trata o dinheiro. Vivi essa experiência andando por este imenso Estado, estudando esse segmento da nossa sociedade. O ganho durante meses de muito trabalho é gasto com prazeres até o último tostão quando tudo é recomeçado sem amarguras, mas, com recordações inesquecíveis.
É a felicidade do recomeço. Os sonhos se sustentam, mesmo com as turbulências que a vida nos apronta.
Destruir um passado não me parece a forma mais correta de administrar uma transitória dificuldade econômica.
Enfim, sempre que a relação com o dinheiro começa a interferir  nas relações básicas consigo mesmo e com os circunstantes, é hora de avaliar o grau de neurose que nos aprisiona.

Gabriel Novis Neves
07-05-2014

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