segunda-feira, 12 de maio de 2014

DIFERENÇAS

Dia desses estava presente em uma roda de jovens casais. A conversa corria animada e alegre. Eufóricos, os jovens relatavam as suas conquistas de vida – prematuras a meu ver.
Apesar da animação reinante, não conseguia me entrosar no bate-papo. Aquela animação não despertava em mim nenhuma euforia. Escutava e ficava pensando que, apesar de já ter vivenciado muitas daquelas experiências, comigo aconteceu de forma muito diferente.
Em pensamento me afastei por alguns instantes do grupo. Fiquei relembrando fatos de minha vida que divergiam, em muito, daquilo que escutava.
Confesso que fiquei até um pouco nostálgico quando percebi a distância abissal entre eu e aqueles jovens.
Diferentemente deles, sempre estudei em escola pública. E, por isso, minha grande primeira conquista foi ter passado e concluído meu curso de graduação em medicina na melhor faculdade da época, a extinta faculdade da Praia Vermelha, marca de qualidade na área de formação médica.
Permaneci doze anos no Rio de Janeiro para adquirir habilidades para exercer a profissão no interior do Brasil.
Casei. Meus três filhos nasceram na maternidade da cidadezinha onde nasci. Eles viveram os seus primeiros anos de vida em uma casa de oitenta metros quadrados, em rua sem pavimentação e com rede de esgoto correndo a céu aberto.
A minha única filha casou-se com o convite dizendo “que os noivos receberão os cumprimentos na igreja”.
Meus valores foram desvalorizados com o tempo e substituídos pelos valores-espetáculos.
Aprendi com os jovens do papo animado que o início não mais se inicia pelo começo - história da construção do futuro é coisa de velho.
O passado é folclore e vive-se intensamente o presente. Futuro são favas contadas de sucesso para as gerações atuais.
Tive a impressão que o teto marca o início de uma nova vida, e o chão do ontem não mais existe.
Diante de tantas evidências brotadas nas conversações, retornei do meu devaneio com uma dúvida.
Os jovens estão certos e gostaria de pertencer a essa tribo.
Será que existo, já que são tantas as diferenças?

Gabriel Novis Neves
30-03-2014

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