Dia
desses estava presente em uma roda de jovens casais. A conversa corria animada
e alegre. Eufóricos, os jovens relatavam as suas conquistas de vida –
prematuras a meu ver.
Apesar
da animação reinante, não conseguia me entrosar no bate-papo. Aquela animação
não despertava em mim nenhuma euforia. Escutava e ficava pensando que, apesar
de já ter vivenciado muitas daquelas experiências, comigo aconteceu de forma
muito diferente.
Em
pensamento me afastei por alguns instantes do grupo. Fiquei relembrando fatos
de minha vida que divergiam, em muito, daquilo que escutava.
Confesso
que fiquei até um pouco nostálgico quando percebi a distância abissal entre eu
e aqueles jovens.
Diferentemente
deles, sempre estudei em escola pública. E, por isso, minha grande primeira
conquista foi ter passado e concluído meu curso de graduação em medicina na
melhor faculdade da época, a extinta faculdade da Praia Vermelha, marca de
qualidade na área de formação médica.
Permaneci
doze anos no Rio de Janeiro para adquirir habilidades para exercer a profissão
no interior do Brasil.
Casei.
Meus três filhos nasceram na maternidade da cidadezinha onde nasci. Eles
viveram os seus primeiros anos de vida em uma casa de oitenta metros quadrados,
em rua sem pavimentação e com rede de esgoto correndo a céu aberto.
A
minha única filha casou-se com o convite dizendo “que os noivos receberão os
cumprimentos na igreja”.
Meus
valores foram desvalorizados com o tempo e substituídos pelos
valores-espetáculos.
Aprendi
com os jovens do papo animado que o início não mais se inicia pelo começo -
história da construção do futuro é coisa de velho.
O
passado é folclore e vive-se intensamente o presente. Futuro são favas contadas
de sucesso para as gerações atuais.
Tive
a impressão que o teto marca o início de uma nova vida, e o chão do ontem não
mais existe.
Diante
de tantas evidências brotadas nas conversações, retornei do meu devaneio com
uma dúvida.
Os
jovens estão certos e gostaria de pertencer a essa tribo.
Será
que existo, já que são tantas as diferenças?
Gabriel
Novis Neves
30-03-2014
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