sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Transformação

O grande “conto do vigário”, prática ingênua, e algumas vezes folclórica, muito comum no início do século passado, transformou-se numa elaborada e sofisticada fábrica de altos lucros.
Sempre me contaram para que tivesse cuidado com pessoas de aparência humilde, com discursos envolventes, confusos e promissores de altas benesses.
A capital desse “conto” até então era o Rio de Janeiro, onde todos se sentiam ameaçados.
Por razões históricas, segundo o mestre Antenor Nascentes, essa denominação teve a sua origem ligada a fatores eclesiásticos.
As oferendas dos fiéis na igreja eram empacotadas e entregues a alguém de confiança da paróquia para serem guardadas.
Como a moeda da época era o “réis”, e o pacote continha um conto de réis, logo essa prática recebeu o nome de “conto do vigário”.
À medida que as necessidades sociais da paróquia exigiam, essas quantias eram repassadas para suas devidas finalidades.
Como nem sempre esses guardadores tinham a esperada confiabilidade, as doações eram discretamente surrupiadas, não cumprindo assim a sua real finalidade.
Essa é a origem do chamado “conto do vigário”.
Nos tempos atuais, com as mentes muito mais sofisticadas e impulsionadas pela alta tecnologia, os deslizes financeiros assumiram caráter de alta periculosidade.
Diariamente temos informações pela mídia dos mêgalos “contos de vigário” institucionalizados pela nossa política e já totalmente fora de controle de conotações éticas.
Os responsáveis pelo erário público não mais têm o mínimo pudor em dilapidá-lo escancaradamente.
Nada acontece, tudo permanece blindado, pois o pequeno e ingênuo “conto do vigário” virou uma grande e forte instituição.
Não somente nós éramos menos informados, mas também os artifícios usados para que a humanidade fosse se aperfeiçoando no desprezo mútuo, foi aumentando com o passar dos anos.
O homem tem sido cada vez mais o próprio algoz de si mesmo.
O estado atual de mentiras, hipocrisias e violência, é apenas o resultado de uma espécie que ainda não atingiu a sua suposta racionalidade.
A desvalorização e a decadência do próximo têm sido diretamente proporcional ao nosso desenvolvimento tecnológico, esse último, motivo de grande orgulho para os habitantes desse nosso planeta.
Tudo sob a égide de uma das maiores democracias do mundo.
Quem pensaria que um dia teríamos saudades dos pequenos golpistas, dos surripiadores do nada, dos artífices das pequenas mentiras?

Gabriel Novis Neves
18-01-2014

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