Cuiabá
passa pelo mais intenso processo de modernização desde a sua fundação, há quase
trezentos anos.
Novas
pontes sobre os rios Cuiabá e Coxipó, avenidas, trincheiras, viadutos e
rotatórias, rasgam a velha capital.
Obras
indispensáveis para viabilizar a ex-Cidade Verde para o futuro.
Sinto
falta dos registros daquilo que perdemos com essa transformação.
Sei
que para se fazer uma omelete, tem que se quebrar ovos.
Quando
Júlio Muller, um dos grandes realizadores desta cidade, construiu, entre
inúmeras obras definitivas, a primeira ponte de concreto sobre o rio Cuiabá
ligando nossa cidade à sua irmã Várzea Grande, uma linda figueira que “ficava
perto da entrada da ponte foi sacrificada”.
Era
carinhosamente chamada pelos cuiabanos de “Figueira do adeus”, por ficar perto
da entrada da ponte.
“Por
ali as pessoas se despediam quando embarcavam nas lanchinhas que faziam a linha
Cuiabá-Corumbá.”
Recordem
o que escreveu nosso poeta Dom Aquino Correa sobre essa figueira.
"Descabelada, a sós, por sobre a imensa praia,
Pende a velha figueira. Os galhos retorcidos.
Olham o vento sul, que tristemente guaia,
E o rio que, em surdina, exala os seus gemidos.
Quem quer que para longe, em leve barco, saia,
Nesta sombra saudosa, abraça os seus queridos:
E aqui, fitando a curva, onde a água além desmaia.
Ó noivas! mães! irmãs! ai! Quantos ais doloridos!
É a figueira do adeus a esta terra que adoro!
E dizem que ao luar, quando o éter é sonoro,
E a natureza, em paz, se ajoelha ao pé de Deus,
A árvore, na natureza tumular dos barrancos,
Entre palpitações sutis de lenços brancos,
Repete soluçando as músicas do adeus!
Penso
nas histórias que perdemos com o desaparecimento de tantas “figueiras do
adeus”.
Foram-se
os nossos casarões, nossas palmeiras imperiais, nossas ruas românticas.
Desfiguraram o nosso centro histórico.
Morrem
sem nenhum registro por uma civilização vencida pelo progresso.
Gabriel
Novis Neves
12-12-2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.