terça-feira, 14 de janeiro de 2014

CULTURA

Cuiabá passa pelo mais intenso processo de modernização desde a sua fundação, há quase trezentos anos.
Novas pontes sobre os rios Cuiabá e Coxipó, avenidas, trincheiras, viadutos e rotatórias, rasgam a velha capital.
Obras indispensáveis para viabilizar a ex-Cidade Verde para o futuro.
Sinto falta dos registros daquilo que perdemos com essa transformação.
Sei que para se fazer uma omelete, tem que se quebrar ovos.
Quando Júlio Muller, um dos grandes realizadores desta cidade, construiu, entre inúmeras obras definitivas, a primeira ponte de concreto sobre o rio Cuiabá ligando nossa cidade à sua irmã Várzea Grande, uma linda figueira que “ficava perto da entrada da ponte foi sacrificada”.
Era carinhosamente chamada pelos cuiabanos de “Figueira do adeus”, por ficar perto da entrada da ponte.
“Por ali as pessoas se despediam quando embarcavam nas lanchinhas que faziam a linha Cuiabá-Corumbá.”
Recordem o que escreveu nosso poeta Dom Aquino Correa sobre essa figueira.
"Descabelada, a sós, por sobre a imensa praia,
Pende a velha figueira. Os galhos retorcidos.
Olham o vento sul, que tristemente guaia,
E o rio que, em surdina, exala os seus gemidos.

Quem quer que para longe, em leve barco, saia,
Nesta sombra saudosa, abraça os seus queridos:
E aqui, fitando a curva, onde a água além desmaia.
Ó noivas! mães! irmãs! ai! Quantos ais doloridos!

É a figueira do adeus a esta terra que adoro!
E dizem que ao luar, quando o éter é sonoro,
E a natureza, em paz, se ajoelha ao pé de Deus,

A árvore, na natureza tumular dos barrancos,
Entre palpitações sutis de lenços brancos,
Repete soluçando as músicas do adeus!
Penso nas histórias que perdemos com o desaparecimento de tantas “figueiras do adeus”.
Foram-se os nossos casarões, nossas palmeiras imperiais, nossas ruas românticas. Desfiguraram o nosso centro histórico.
Morrem sem nenhum registro por uma civilização vencida pelo progresso.

Gabriel Novis Neves
12-12-2013  

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