Após
implantar a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e colocar em
funcionamento o seu curso de medicina, fui desempenhar minhas funções de
docente no Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM).
Permaneci
nessa atividade até a minha aposentadoria.
Sem
privilégios, e como um recém-contratado, o chefe da clínica a que pertencia
(Ginecologia-Obstetrícia), designou-me para o ambulatório de obstetrícia no
período da tarde, às quartas-feiras, onde, facilmente, a temperatura beirava
aos quarenta graus centígrados.
Na
época, as salas não eram climatizadas e o velho ventilador de pé jogava o ar
quente pelo ambulatório.
Nos
outros períodos da semana trabalhava no pronto atendimento; visita com os
alunos na enfermaria e centro cirúrgico. Esses blocos de trabalhos acadêmicos,
em média, deveriam durar cerca de quatro horas para atender a minha carga
horária contratual.
Reunião
semanal dos docentes e um plantão noturno de doze horas semanais.
Fazia
medicina assistencial com os meus futuros colegas, permutando conhecimentos na
difícil profissão de médico.
Tudo
corria na mais perfeita harmonia e, finalmente, eu realizava a tarefa mais
importante na universidade, que é a docência expositiva.
Por
ocasião do reconhecimento do curso, o antigo Conselho Federal de Educação
nomeou para relator do processo nosso ex-professor de Clínica Médica e
paraninfo dos internos (1959-1960), Clementino Fraga Filho, o professor
Fraguinha, assim chamado pelos seus alunos.
Acompanhado
do reitor esteve inspecionando o HUJM. Ao me encontrar no ambulatório com os
alunos, chamou-me discretamente para uma política caminhada pelo longo corredor
do hospital e logo me perguntou:
“Você acabou de deixar a reitoria e está no
ambulatório? É castigo”!
Acalmei-o
dizendo que todo o reitorado era de jovens que me ajudaram a implantar a
universidade, e eram meus amigos queridos.
Clementino
Fraga havia sido reitor da UFRJ e, nos grandes centros (!), após ocupar por
quatro anos esse cargo, o ex tem que ser “protegido” em alguma função
inacessível aos estudantes.
É
também da vaidade acadêmica que os mestres mais titulados fiquem nos fundos dos
hospitais.
Visão
elitista do nosso ensino, onde o importante na formação do aluno de medicina é
que tenham, na porta de entrada do hospital e na rede básica de saúde, os
melhores professores.
É
no “postinho” de saúde onde simples sinais têm que ser entendidos e esclarecidos.
Os médicos dos PSFs, Policlínicas e Prontos Atendimentos devem ser muito bem
qualificados e protegidos por uma estrutura que possibilite uma resolutividade
ao seu trabalho.
Ali,
não é lugar para tratar de sintomas, e sim, de observar o paciente com uma visão holística e
humanista.
Dizer
que “qualquer um” serve para essas ações, é cometer um crime.
Vamos
valorizar o atendimento à Atenção Básica de Saúde?
Gabriel
Novis Neves
09-12-2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.