quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Medicina chinesa

Não tenho nenhuma barreira que me impeça de experimentar novos conhecimentos científicos, ou empíricos, na área da minha formação médica.
Tenho sede de entender culturas de outros povos. A minha formação médica é humanística - quando a França era a casa do conhecimento médico.
Depois da minha graduação, a tecnologia médica americana tomou conta do mundo, principalmente do ocidente. Os custos dessa medicina inviabilizaram a sua utilização universal.
Estudiosos ocidentais passaram a estudar a milenar medicina oriental e a sua aplicabilidade em nossa cultura.
A qualidade da medicina ocidental, com ampla cobertura da mídia, bancada com recursos da indústria farmacêutica e de equipamentos, selou na nossa gente o falso princípio da eficiência tecnológica.
Qualquer paciente ocidental tem como parâmetro de qualidade do bom atendimento em saúde o número de exames laboratoriais pedidos e o preço dos medicamentos receitados.
Comecei a me interessar pela medicina chinesa devido ao meu desencanto com a tecnologia ocidental na área da saúde, que só é alcançada por poucos.
Quando se fala em medicina chinesa, erroneamente fazemos logo uma associação com acupuntura.
E, em nome dessa confusão, aparecem espertalhões praticando o exercício ilegal da medicina, já que acupuntura é, por lei, uma especialidade médica.
Estou dando os primeiros passos como paciente nessa arte da cura sem máquinas e sem medicamentos proibitivos de última geração.
Tão simples a diferença que nem preciso lembrar que, enquanto a medicina chinesa é voltada à prevenção das doenças priorizando o paciente, a medicina tecnológica esquece o paciente e se foca somente na doença, diagnosticada por máquinas.
O paciente hoje no Brasil dificilmente tem oportunidade de falar sobre seus males ao médico que o atende durante uma consulta.
Ele perde a sua condição de ser humano e fica resumido a uma região topográfica.
Para ser atendido pela medicina chinesa, o médico precisa de tempo, que lhe é negado pela medicina tecnológica.
Este é o fundamento principal. A medicina oriental tem no tempo dedicado ao paciente, o único caminho para a cura. Na tecnológica, é a máquina.
O Brasil possui uma quantidade expressiva de médicos. Por outro lado, o governo não disponibiliza recursos para a aquisição de equipamentos suficientes para o bom desenvolvimento do atendimento aos pacientes. Esses equipamentos, portanto, ficam concentrados nos grandes centros. As cidades do interior sofrem pela falta de médicos justamente porque não encontram as mínimas condições de trabalho.
Não há uma política de interiorização do médico saído das nossas universidades, que é o médico tecnológico.
Não estou, em absoluto, tentando substituir o médico ocidental pelo oriental. Apenas jogando informações sobre o nosso maior problema social, que é a falta de uma boa medicina para todos.
Será que a poderosa indústria de equipamentos médico-hospitalares e farmacêuticas não iria interferir na estrutura curricular dos mais de duzentos e vinte cursos de medicina no Brasil caso se priorizasse ações voltadas para o paciente e, com isso, deixando os exames complementares apenas como auxiliar, e não, como agentes de diagnóstico, como é feito hoje?
Como solução emergencial o governo decidiu alugar médicos por tempo determinado e de qualificação científica duvidosa.
É difícil mudar uma ideologia. Há necessidade de tempo, e na saúde tempo é vida.
Em vésperas de eleição seria importante discutir, pelo menos, o que é importante para a sociedade.
A nossa saúde pública está no topo dessas prioridades.
Pelo menos vamos tentar o debate?

Gabriel Novis Neves
13-01-2014

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