Não
tenho nenhuma barreira que me impeça de experimentar novos conhecimentos
científicos, ou empíricos, na área da minha formação médica.
Tenho
sede de entender culturas de outros povos. A minha formação médica é
humanística - quando a França era a casa do conhecimento médico.
Depois
da minha graduação, a tecnologia médica americana tomou conta do mundo,
principalmente do ocidente. Os custos dessa medicina inviabilizaram a sua
utilização universal.
Estudiosos
ocidentais passaram a estudar a milenar medicina oriental e a sua
aplicabilidade em nossa cultura.
A
qualidade da medicina ocidental, com ampla cobertura da mídia, bancada com
recursos da indústria farmacêutica e de equipamentos, selou na nossa gente o
falso princípio da eficiência tecnológica.
Qualquer
paciente ocidental tem como parâmetro de qualidade do bom atendimento em saúde
o número de exames laboratoriais pedidos e o preço dos medicamentos receitados.
Comecei
a me interessar pela medicina chinesa devido ao meu desencanto com a tecnologia
ocidental na área da saúde, que só é alcançada por poucos.
Quando
se fala em medicina chinesa, erroneamente fazemos logo uma associação com acupuntura.
E,
em nome dessa confusão, aparecem espertalhões praticando o exercício ilegal da
medicina, já que acupuntura é, por lei, uma especialidade médica.
Estou
dando os primeiros passos como paciente nessa arte da cura sem máquinas e sem
medicamentos proibitivos de última geração.
Tão
simples a diferença que nem preciso lembrar que, enquanto a medicina chinesa é
voltada à prevenção das doenças priorizando o paciente, a medicina tecnológica
esquece o paciente e se foca somente na doença, diagnosticada por máquinas.
O
paciente hoje no Brasil dificilmente tem oportunidade de falar sobre seus males
ao médico que o atende durante uma consulta.
Ele
perde a sua condição de ser humano e fica resumido a uma região topográfica.
Para
ser atendido pela medicina chinesa, o médico precisa de tempo, que lhe é negado
pela medicina tecnológica.
Este
é o fundamento principal. A medicina oriental tem no tempo dedicado ao
paciente, o único caminho para a cura. Na tecnológica, é a máquina.
O
Brasil possui uma quantidade expressiva de médicos. Por outro lado, o governo
não disponibiliza recursos para a aquisição de equipamentos suficientes para o
bom desenvolvimento do atendimento aos pacientes. Esses equipamentos, portanto,
ficam concentrados nos grandes centros. As cidades do interior sofrem pela
falta de médicos justamente porque não encontram as mínimas condições de
trabalho.
Não
há uma política de interiorização do médico saído das nossas universidades, que
é o médico tecnológico.
Não
estou, em absoluto, tentando substituir o médico ocidental pelo oriental.
Apenas jogando informações sobre o nosso maior problema social, que é a falta
de uma boa medicina para todos.
Será
que a poderosa indústria de equipamentos médico-hospitalares e farmacêuticas
não iria interferir na estrutura curricular dos mais de duzentos e vinte cursos
de medicina no Brasil caso se priorizasse ações voltadas para o paciente e, com
isso, deixando os exames complementares apenas como auxiliar, e não, como
agentes de diagnóstico, como é feito hoje?
Como
solução emergencial o governo decidiu alugar médicos por tempo determinado e de
qualificação científica duvidosa.
É
difícil mudar uma ideologia. Há necessidade de tempo, e na saúde tempo é vida.
Em
vésperas de eleição seria importante discutir, pelo menos, o que é importante
para a sociedade.
A
nossa saúde pública está no topo dessas prioridades.
Pelo
menos vamos tentar o debate?
Gabriel Novis Neves
13-01-2014
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