domingo, 19 de janeiro de 2014

Os olhos falam

Costumo dizer que os olhos são a porta de entrada para atingir a alma das pessoas.
O esquizofrênico, por exemplo, tem um olhar impenetrável. Talvez por ser possuidor de uma lesão congênita do núcleo afetivo localizado no cérebro, não conseguimos atingir a casa desse sentimento humano que, dizem os poetas, fica no coração – onde a alma se abriga.
Todos sabem que os artistas não têm compromisso com a verdade, e sim, com a beleza.
Os poetas abusam dessa prerrogativa estética.
Cartola conversava com as rosas. Noel com a lua. Caymmi com o mar. Tom com a natureza. Vinicius com o amor. Maria com a solidão. O “Rei” com os botões da blusa.
Pelo olhar se percebe o bem querer, a amizade, o ódio e, até, o desejo em encerrar uma conversa.
O olhar denuncia os nossos mais primitivos sofrimentos. É cúmplice.
O pior olhar é o da descrença, onde não existe mais a esperança de uma reconciliação, muitas vezes provocada pela vaidade, inveja e rivalidade material entre pessoas.
Nesse momento o ser humano abdica da sua condição de racional e vira bicho.
Que coisa maravilhosa e, ao mesmo tempo, terrível, são os olhos! Esses pequenos instrumentos da nossa vida sensitiva.
Não era à toa que os antigos, em caso de dúvida, propunham uma conversa franca - “olho no olho”.
Os religiosos cuiabanos quando fazem a leitura de um olhar e percebem uma inverdade, apelam para o nosso milagroso Senhor Divino.
Muitos perguntam ao suspeito do “delito” sobre a veracidade da leitura.
Quando a resposta é negativa e, para terem certeza que aqueles olhos não estão mentindo, perguntam:
 “O Senhor Divino pode furar os seus olhos”?
Não há mentira resistente neste momento, e a verdade aparece.
Somente a fé cura a “cegueira” dos sentimentos projetada nos olhos, esses pequeninos grãos de areia que falam.

Gabriel Novis Neves
31-12-2013

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