Costumo
dizer que os olhos são a porta de entrada para atingir a alma das pessoas.
O
esquizofrênico, por exemplo, tem um olhar impenetrável. Talvez por ser
possuidor de uma lesão congênita do núcleo afetivo localizado no cérebro, não
conseguimos atingir a casa desse sentimento humano que, dizem os poetas, fica
no coração – onde a alma se abriga.
Todos
sabem que os artistas não têm compromisso com a verdade, e sim, com a beleza.
Os
poetas abusam dessa prerrogativa estética.
Cartola
conversava com as rosas. Noel com a lua. Caymmi com o mar. Tom com a natureza.
Vinicius com o amor. Maria com a solidão. O “Rei” com os botões da blusa.
Pelo
olhar se percebe o bem querer, a amizade, o ódio e, até, o desejo em encerrar
uma conversa.
O
olhar denuncia os nossos mais primitivos sofrimentos. É cúmplice.
O
pior olhar é o da descrença, onde não existe mais a esperança de uma
reconciliação, muitas vezes provocada pela vaidade, inveja e rivalidade
material entre pessoas.
Nesse
momento o ser humano abdica da sua condição de racional e vira bicho.
Que
coisa maravilhosa e, ao mesmo tempo, terrível, são os olhos! Esses pequenos
instrumentos da nossa vida sensitiva.
Não
era à toa que os antigos, em caso de dúvida, propunham uma conversa franca -
“olho no olho”.
Os
religiosos cuiabanos quando fazem a leitura de um olhar e percebem uma
inverdade, apelam para o nosso milagroso Senhor Divino.
Muitos
perguntam ao suspeito do “delito” sobre a veracidade da leitura.
Quando
a resposta é negativa e, para terem certeza que aqueles olhos não estão
mentindo, perguntam:
“O Senhor Divino pode furar os seus olhos”?
Não
há mentira resistente neste momento, e a verdade aparece.
Somente
a fé cura a “cegueira” dos sentimentos projetada nos olhos, esses pequeninos
grãos de areia que falam.
Gabriel Novis Neves
31-12-2013
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