sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

BAIRRISMO

Cresci ouvindo que o cuiabano era bairrista, isto é, aquele que defende exageradamente o local onde nasceu.
Nunca me entusiasmei com esse sentimento externado por alguns moradores da minha querida cidade.
O certo é que o “chegante” era visto com desconfiança, e tinha seu período de quarentena, que podia ser superior aos quarenta dias para melhor observação.
Aprovado, era mais um filho que ganhava a ex- Cidade Verde.
Até hoje encontramos trincheiras de defensores dos cuiabanos de “tchapa e cruz”.
Dizem alguns que essa expressão foi criada pelo poeta Silva Freire para valorizar os nascidos aqui, entretanto, isso não tem o menor fundamento.
A expressão "Chapa e Cruz"- em Cuiabá "Tchapa e Cruz"- tem origem no jogo, hoje conhecido por "cara ou coroa", praticado aqui desde o tempo de Dona Maria I, a Louca, quando as moedas, de um lado, traziam estampado o valor e, do outro a Cruz de Malta, símbolo das conquistas lusitanas.
Acredito que a beleza poética desse grupo fraseológico, funciona mais como um charme da cidade do pacu.
Somos uma raça cujas origens vêm das civilizações pré-colombianas que para cá migraram, e hoje ainda temos cerca de quarenta etnias no Estado.
Com a colonização portuguesa chegaram os escravos africanos, iniciando o processo de miscigenação.
O isolamento que sofremos durante três séculos fez com que alguns “aventureiros” estrangeiros aqui aportassem fixando e criando famílias.
A Guerra do Paraguai nos trouxe brasileiros de outros locais para ocuparem postos estratégicos para a defesa do território nacional, e por aqui ficaram constituindo famílias.
Os poucos nativos que fugiam do analfabetismo passavam anos estudando em centros mais desenvolvidos do país. Muitos, quando retornavam, já vinham casados e com filhos.
Com a implantação da UFMT os sulistas descendentes de europeus, sabendo que tinham um lugar para educar os seus filhos, começaram a migração em massa para o nosso Estado.
Os homens de “olhos azuis” foram inicialmente recebidos com reservas. Depois absorvidos pela generosidade da nossa gente.
Hoje possuímos uma capital em transformação física, centro de um grande complexo universitário, e o cuiabano virou minoria, inclusive, no comando do poder político e econômico do Estado.
Tudo aconteceu de maneira não traumática, e não entendo como certos segmentos sociais continuam cultivando o falso cuiabano “chapa e cruz”, mais um poema literário adaptado de uma expressão da época, do que uma realidade.
Cuiabano bairrista, não. Cuiabano orgulhoso pelas suas conquistas? Sim!

Gabriel Novis Neves
16-11-2013

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