Cresci
ouvindo que o cuiabano era bairrista, isto é, aquele que defende exageradamente
o local onde nasceu.
Nunca
me entusiasmei com esse sentimento externado por alguns moradores da minha
querida cidade.
O
certo é que o “chegante” era visto com desconfiança, e tinha seu período de
quarentena, que podia ser superior aos quarenta dias para melhor observação.
Aprovado,
era mais um filho que ganhava a ex- Cidade Verde.
Até
hoje encontramos trincheiras de defensores dos cuiabanos de “tchapa e cruz”.
Dizem
alguns que essa expressão foi criada pelo poeta Silva Freire para valorizar os
nascidos aqui, entretanto, isso não tem o menor fundamento.
A
expressão "Chapa e Cruz"- em Cuiabá "Tchapa e Cruz"- tem
origem no jogo, hoje conhecido por "cara ou coroa", praticado aqui
desde o tempo de Dona Maria I, a Louca, quando as moedas, de um lado, traziam
estampado o valor e, do outro a Cruz de Malta, símbolo das conquistas
lusitanas.
Acredito
que a beleza poética desse grupo fraseológico, funciona mais como um charme da
cidade do pacu.
Somos
uma raça cujas origens vêm das civilizações pré-colombianas que para cá
migraram, e hoje ainda temos cerca de quarenta etnias no Estado.
Com
a colonização portuguesa chegaram os escravos africanos, iniciando o processo
de miscigenação.
O
isolamento que sofremos durante três séculos fez com que alguns “aventureiros”
estrangeiros aqui aportassem fixando e criando famílias.
A
Guerra do Paraguai nos trouxe brasileiros de outros locais para ocuparem postos
estratégicos para a defesa do território nacional, e por aqui ficaram
constituindo famílias.
Os
poucos nativos que fugiam do analfabetismo passavam anos estudando em centros
mais desenvolvidos do país. Muitos, quando retornavam, já vinham casados e com
filhos.
Com
a implantação da UFMT os sulistas descendentes de europeus, sabendo que tinham
um lugar para educar os seus filhos, começaram a migração em massa para o nosso
Estado.
Os
homens de “olhos azuis” foram inicialmente recebidos com reservas. Depois
absorvidos pela generosidade da nossa gente.
Hoje
possuímos uma capital em transformação física, centro de um grande complexo
universitário, e o cuiabano virou minoria, inclusive, no comando do poder
político e econômico do Estado.
Tudo
aconteceu de maneira não traumática, e não entendo como certos segmentos
sociais continuam cultivando o falso cuiabano “chapa e cruz”, mais um poema
literário adaptado de uma expressão da época, do que uma realidade.
Cuiabano
bairrista, não. Cuiabano orgulhoso pelas suas conquistas? Sim!
Gabriel
Novis Neves
16-11-2013
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