Em
que época da vida você acertou as contas com a sua criança?
Essa
é uma pergunta que costuma ocorrer a todos os adultos especulativos.
Em
que momento aqueles sonhos que você havia programado como meta de vida foram
destruídos ou substituídos por outros valores mais próximos à realidade?
É
impressionante como isso ocorre em épocas diferentes para cada um de nós.
Alguns, só têm esse insight depois de um grande sofrimento, muitas vezes
auxiliados por uma terapia. Outros passam a vida buscando isso e culpando os
circunstantes por não terem conseguido esse momento.
À
medida que a seriedade dessas programações de adolescente vai se tornando mais
leve, maior a possibilidade de um adulto mais feliz despontar.
Ao
contrário, uma criança, muito cobrada em termos éticos, morais e religiosos,
dificilmente conseguirá minimizar os efeitos disso na sua personalidade e,
quanto mais tarde o fizer, maior a “sensação de vida que poderia ter sido e não
foi”.
Quantas
vezes nos pegamos fazendo cobranças pessoais difíceis de cumprir, nos amando de
menos e subestimando os nossos mais profundos desejos.
Todas
práticas patológicas, dependendo do grau em que ocorram.
Quanto
mais cedo for feita essa catarse, maiores as possibilidades de encarar o passar
dos anos com a tão necessária leveza que a própria velhice exige.
Por
incrível que pareça já tinha feito todas essas considerações quando, numa
dessas estadas no Rio de Janeiro, tive a oportunidade de assistir à encenação
de um texto do grande poeta português Fernando Pessoa.
Tratava-se
de um monólogo, aliás, brilhantemente interpretado pelo ator Rafael Camargo, na
Casa de Cultura Laura Alvim.
Nele,
o fantástico ator interpreta as três personagens do escritor no momento em que
se confronta com os seus três “eus”: Fernando, o adulto, Alberto a criança e
Ricardo, o escritor.
Num
jogo de palavras, assombrosamente bem elaborado, somos levados pela vida afora
a vestir cada um desses personagens a cada momento, como se o próprio Fernando
Pessoa fôssemos.
A
criança desprotegida aparece com toda a sua força alternada com o adulto
culpado e reprimido em que, praticamente, todos nós nos tornamos.
Espetáculo
absolutamente imperdível para todas as pessoas de sensibilidade e, que, por
acaso, gostem de pensar.
Gabriel
Novis Neves
20-01-2014
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