Se
pudesse, em todos os meus artigos eu elogiaria alguma conquista da sociedade.
Diante de tal impossibilidade, só me resta calar e deixar a vida acontecer, ou,
ser solidário com aqueles que sofrem.
Como
médico, diariamente, sou procurado para resolver um problema humano voltado
para a saúde. A carga de reclamações está centrada na Atenção Básica da Saúde,
principalmente. A situação da UPA da Morada do Ouro merece uma reflexão.
Ninguém
mais cobra um novo Pronto Socorro, a transformação do antigo Hospital
Neurológico (privado) em hospital de média e alta complexidade, a conclusão do
Hospital Central - vergonha com o desdém da saúde do pobre.
Nem
se fala mais no “novo hospital” Julio Muller da UFMT, localizado na rodovia
para Santo Antônio de Leverger, que seria construído em convênio com o governo
do Estado e "inaugurado" em dezembro de 2013, servindo, com seus 250
leitos, de suporte ao grande evento internacional de junho - a Copa do Mundo.
Poucos
se interessam em saber sobre as condições precárias de funcionamento do velho
HUJM, totalmente sucateado, sem médicos e serviços essenciais dignos de um
hospital de ensino.
A
aquisição pelo Estado do Hospital Geral Universitário da Rua 13 de Junho ficou
no discurso.
Mas,
o grande problema inadiável no momento, é fazer funcionar os PSFs e,
principalmente, a única UPA existente em Cuiabá, que fica na Morada do Ouro.
Há
duas semanas, um amigo desesperado estava no tal do posto de urgência e
emergência com a sua filhinha de quatro anos passando mal. Após longa espera
foi informado que todos os pediatras tinham pedido demissão. Ao tomar
conhecimento dessa barbárie, consegui para ele uma consulta cortesia com um
pediatra no hospital onde trabalho.
As
reclamações se avolumaram, e a espera para o atendimento de urgência e
emergência nas Policlínicas e na UPA, que veio para desafogar o arcaico Pronto
Socorro Municipal, é de, no mínimo, três horas e, muitas vezes, termina com um
simples encaminhamento ao esgotado Pronto Socorro, por absoluta falta de
recursos humanos e insumos básicos como seringas, gazes, analgésicos, material
para uma pequena sutura, restando apenas o serviço de rebocoterapia.
Nenhuma
providência de urgência e emergência foi tomada até o momento, e o fato é
considerado normal pelas nossas autoridades para este período de festas e
comemorações hipócritas.
Será
que nem o espírito natalino sensibiliza os nossos governantes, tão generosos no
aumento de seus salários e benesses?
Triste
cidade onde a banda da desordem social passa desfilando pelas ruas e ficamos na
janela do nosso comodismo e conformismo apreciando o seu desfile.
Gabriel Novis Neves
28-12-2013
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