Sabiá

Moro no vigésimo andar de um edifício ainda com vizinhança rica em verde.

Estava no computador, quando o canto de um sabiá me chamou a atenção.

Fui até a janela do escritório. Que pena! Assustei o bichinho.

Acompanhei o seu voar acrobático, com velocidade inacreditável.

Primeiro, com as asas coladas ao seu corpinho, numa descida em vertical, seguida de um voo com as asas ora em movimento ora plainando - como a debochar de mim - em direção às árvores do bosque.

O certo é que, ainda na descida, encontrou um companheiro/a, e se perderam na tranquilidade das árvores.

Entendi esse encontro como prova de solidariedade e cumplicidade, comum entre os ditos irracionais.

Retorno ao computador. Ao longe ouço a algazarra dos pássaros. Algum motivo especial ou apenas sinais de felicidade. Não entendo o que falam e cantam.

Lembrei-me da fala do presidente Tupamaro na Rio + 20: “Cuidar do meio ambiente é ser feliz”.

Este é o sentimento que sinto neste instante.

Pensei na motoserra, destruidora da nossa mata alta para o plantio indiscriminado de alimentos para os países ricos. Dos grandes incêndios criminosos para abertura de pastos para fazendas de gado.

Da indústria madeireira, sem limites racionais.

De toda essa destruição acobertada pelo governo e feita em nome de um 'progresso' que nunca chega para nós, pois o que precisamos é de desenvolvimento sustentável.

O nosso rio Cuiabá sendo morto pelos esgotos abertos que chegam desde as suas nascentes, com o desaparecimento das matas ciliares, sua proteção arrancada.

Seus peixes desaparecendo e o rio contaminado, atingindo o nosso pantanal, chamado pelos saudosistas de ‘santuário-ecológico. ’

Nossa fauna está morrendo ou fugindo sem destino, pois o seu habitat está sendo invadido em nome do 'progresso'.

Vou parar de escrever sobre a felicidade que tomou conta de mim ao ouvir o cantar dos pássaros da minha cidade.

Seguirei o exemplo do escritor francês Henri Studhal (1783-1843): “Descrever a felicidade é diminuí-la”.

Gabriel Novis Neves

21-09-2012