Aprecio
as opiniões políticas do historiador Alfredo Menezes. Concordei plenamente com
ele quando, em recente entrevista ao site “Midia News”, afirmou que desde 1985
os temas abordados nas campanhas para a prefeitura de Cuiabá continuam os
mesmos.
E,
bem a propósito: dia desses escutei a gravação de um comício que realizei no
bairro Pedregal em 1985 - o conteúdo do discurso pode perfeitamente ser
aproveitado para esta campanha de 2012. Passados vinte e sete anos, os
problemas daquele bairro são os mesmos.
Pouco
se fez nesse período em benefício da sua população: o esgoto continua a correr
a céu aberto; a saúde pública funciona da mesma forma precária; a educação
ainda lutando contra a epidemia do analfabetismo; problemas de transporte
coletivo; segurança pública inexistente – tudo isso agravado com o aumento da
população.
Diante
da repetição das promessas e, com o agravamento dos mesmíssimos problemas, há
um enorme desinteresse da população em levar a sério os compromissos
eleitoreiros, e chega a ser irritante ouvir o blá-blá-blá dos candidatos.
Em
plena era da Internet, Facebook, iPhone, iPad, nada mais desinteressante,
especialmente ao jovem, do que a repetição de velhos temas requentados,
cheirando mofo e incompetência.
Segundo
o entrevistado do site, a única maneira de atrair a atenção do descrente
eleitor intoxicado de promessas vazias, é o emprego do ‘chute na canela’ entre
os candidatos.
Até
isso é negado ao eleitor do século XXI. Os chutes surgiram nesta campanha, mas
proferidos por terceiros, a mando dos responsáveis pelo poder. Os candidatos
evitam ao máximo essa prática, a não ser para aqueles mercadores de espaço
político na televisão, cujo preço é uma fortuna.
À
primeira canelada surgida, uma verdadeira cascata de profissionais apareceu
oferecendo aos partidos políticos os seus serviços profissionais.
Alguém
que tenha se ausentado de Cuiabá nos últimos doze meses, ao retornar, terá que
fazer um intensivão de atualização política, para começar a entender o que
aconteceu por aqui.
O
poderoso Partido Nem Tanto Republicano (PNTR), que durante anos engordou muito
marmanjo, melancolicamente implodiu, deixando em maus lençóis o seu Presidente
de Honra.
O
barco está vazio e desgovernado, com água no convés. A turma que já pulou fora
está chutando a canela do antigo chefe e de ex-companheiros, apesar de ninguém
ser candidato a nenhum cargo eletivo. Com certeza a merenda faltou.
Chute
na canela é uma metáfora elegante do nosso professor entrevistado. Na verdade é
uma agressão covarde e acachapante, sem limites éticos ou humanos.
Vejo
um excelente mercado para os artilheiros dos ossos da perna dos ex-amigos,
sempre patrocinados por aqueles que todos sabem quem são e cujos custos
operacionais são caríssimos, porém custeados pela ‘viúva’.
Acompanho
o desconforto de alguns candidatos que foram premiados com esses ‘voluntários’
que, na guerra de verdade, aquele que tem bala atende por outro nome.
Depois
da introdução dos chutadores de canelas em ação, justiça seja feita: o
interesse pelo horário político gratuito aumentou consideravelmente.
Fontes
fidedignas informam que a chuva de caneladas está reservada para o segundo
turno das eleições. Só não poderá atingir a canela da mãe. A exumação do
desempenho dos ex-prefeitos de Cuiabá foi lamentável.
Política
é atividade nobre e necessária em um país democrático. Quando o respeito é
banido pelos interesses pessoais, o resultado é o que contemplamos – caneladas.
Já
que será inevitável o conflito, cuidado com os portadores de pernas de vidros.
Românticos
tempos em que, para exercer cargo público, não era admitido candidatos
portadores de telhado de vidro.
É
isso que a população espera para decidir sobre o próximo prefeito de Cuiabá?
Acho
que não.
Gabriel Novis
Neves
09-10-2012
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