quinta-feira, 11 de outubro de 2012

CHUTE NA CANELA


Aprecio as opiniões políticas do historiador Alfredo Menezes. Concordei plenamente com ele quando, em recente entrevista ao site “Midia News”, afirmou que desde 1985 os temas abordados nas campanhas para a prefeitura de Cuiabá continuam os mesmos.
E, bem a propósito: dia desses escutei a gravação de um comício que realizei no bairro Pedregal em 1985 - o conteúdo do discurso pode perfeitamente ser aproveitado para esta campanha de 2012. Passados vinte e sete anos, os problemas daquele bairro são os mesmos.
Pouco se fez nesse período em benefício da sua população: o esgoto continua a correr a céu aberto; a saúde pública funciona da mesma forma precária; a educação ainda lutando contra a epidemia do analfabetismo; problemas de transporte coletivo; segurança pública inexistente – tudo isso agravado com o aumento da população.
Diante da repetição das promessas e, com o agravamento dos mesmíssimos problemas, há um enorme desinteresse da população em levar a sério os compromissos eleitoreiros, e chega a ser irritante ouvir o blá-blá-blá dos candidatos.
Em plena era da Internet, Facebook, iPhone, iPad, nada mais desinteressante, especialmente ao jovem, do que a repetição de velhos temas requentados, cheirando mofo e incompetência.
Segundo o entrevistado do site, a única maneira de atrair a atenção do descrente eleitor intoxicado de promessas vazias, é o emprego do ‘chute na canela’ entre os candidatos.
Até isso é negado ao eleitor do século XXI. Os chutes surgiram nesta campanha, mas proferidos por terceiros, a mando dos responsáveis pelo poder. Os candidatos evitam ao máximo essa prática, a não ser para aqueles mercadores de espaço político na televisão, cujo preço é uma fortuna.
À primeira canelada surgida, uma verdadeira cascata de profissionais apareceu oferecendo aos partidos políticos os seus serviços profissionais.
Alguém que tenha se ausentado de Cuiabá nos últimos doze meses, ao retornar, terá que fazer um intensivão de atualização política, para começar a entender o que aconteceu por aqui.
O poderoso Partido Nem Tanto Republicano (PNTR), que durante anos engordou muito marmanjo, melancolicamente implodiu, deixando em maus lençóis o seu Presidente de Honra.
O barco está vazio e desgovernado, com água no convés. A turma que já pulou fora está chutando a canela do antigo chefe e de ex-companheiros, apesar de ninguém ser candidato a nenhum cargo eletivo. Com certeza a merenda faltou.
Chute na canela é uma metáfora elegante do nosso professor entrevistado. Na verdade é uma agressão covarde e acachapante, sem limites éticos ou humanos.
Vejo um excelente mercado para os artilheiros dos ossos da perna dos ex-amigos, sempre patrocinados por aqueles que todos sabem quem são e cujos custos operacionais são caríssimos, porém custeados pela ‘viúva’.
Acompanho o desconforto de alguns candidatos que foram premiados com esses ‘voluntários’ que, na guerra de verdade, aquele que tem bala atende por outro nome.
Depois da introdução dos chutadores de canelas em ação, justiça seja feita: o interesse pelo horário político gratuito aumentou consideravelmente.
Fontes fidedignas informam que a chuva de caneladas está reservada para o segundo turno das eleições. Só não poderá atingir a canela da mãe. A exumação do desempenho dos ex-prefeitos de Cuiabá foi lamentável.
Política é atividade nobre e necessária em um país democrático. Quando o respeito é banido pelos interesses pessoais, o resultado é o que contemplamos – caneladas.
Já que será inevitável o conflito, cuidado com os portadores de pernas de vidros.
Românticos tempos em que, para exercer cargo público, não era admitido candidatos portadores de telhado de vidro.
É isso que a população espera para decidir sobre o próximo prefeito de Cuiabá?
Acho que não.

Gabriel Novis Neves     
09-10-2012

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