Bem
antigamente, as eleições municipais em Cuiabá eram mais criativas e
emocionantes. Havia uma polarização e rotatividade do poder entre os dois
grandes partidos da época.
Quem
não era do PSD, era da UDN. A paixão dominava o período pré-eleitoral. Cada
partido era proprietário do seu próprio jornal.
A
UDN tinha o seu apimentadíssimo jornal impresso em papel amarelo. Era o
“Combate” ou como diziam os seus adversários – “O Cão Bate”.
O
PSD vinha com o seu salgado “Social Democrático.”
Bons
tempos em que a política era o exercício da cidadania.
Toda
a cidade participava desses embates eleitorais, e muitas inimizades surgiam
nesse afloramento emocional.
A
nata da intelectualidade cuiabana escrevia nos jornais e, à noite, desfilava a
sua cultura pelos comícios realizados nos bairros da minha Cuiabá.
Crianças,
adultos, idosos, homens e mulheres constituíam o seleto público dos charmosos
comícios, onde só não podia era xingar a mãe do candidato. O resto era resto, e
tudo era válido.
Sinto
uma ponta de nostalgia desse tempo sem marqueteiros e assessores para tudo,
que, a bem da verdade, não servem para nada.
Revelar
para as gerações atuais que a pequena ponte do Baú - que nem existe mais -
ganhou uma eleição para a prefeitura de Cuiabá, é algo inimaginável.
Meu
pai sempre que voltava para casa, após o longo expediente no Bar do Bugre,
centro de vivência e fofoca da cidade nesse período, trazia para a minha mãe um
panfleto apócrifo.
Criança
não podia ler. O seu conteúdo era fortíssimo e, o melhor, muito bem humorado.
Certa
ocasião eu peguei um desses de final de campanha do paletó do meu pai. Li
escondido no banheiro. No dia seguinte fui me confessar para comungar. Tinha
pecado.
Nós
fomos passando, e o período eleitoral virou um bom momento para inescrupulosos
se locupletarem de recursos sem origem declarada.
Virou
um negócio que movimenta milhões esse tal do período eleitoral.
Vadios,
desocupados, desempregados, golpistas, utilizam de toda a malandragem para
arrumar algum, que para poucos, é montão.
As
carreatas custam muita grana. Os subprodutos dessa festa movimentam milhões de
reais. Jatinho pra cá, jatinho pra lá, almoços, jantares para arrecadar fundos
para comprar votos.
Dia
desses fui obrigado a parar por longo tempo para uma carreata passar.
Muito
som, bandeiras, faixas, adesivos, santinhos e um coral inusitado.
Milhares
de pessoas sincronizadas gritavam no ritmo do bombo: ‘land rover’.
Meu
neto, que me acompanhava, diante de tamanha ovação para o ‘land rover’, me
perguntou quem era esse candidato.
Disse-lhe
que era marca de jipe que o governo pagou e nunca viu o produto, e que seria
utilizado para fiscalizar as nossas fronteiras em substituição aos aviões não
dirigíveis.
A
carreata passou, e voltei para casa para registrar esse momento dos tempos
modernos.
Gabriel Novis Neves
17-10-2012
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