segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Nós, os rotulados


Habituamos-nos desde sempre a colocar rótulos nas pessoas.
Com pouca frequência nos referimos a alguém como normal, até porque existe a crença de que, de perto, ninguém o é.
Para a grande maioria das sociedades organizadas, quanto maior o número de reprimidos no seu conteúdo, maior a possibilidade dela se tornar perfeita para o sistema.
Para isso, diferentes técnicas subliminares são usadas desde a mais tenra idade, sejam elas sociais,  familiares ou religiosas, sempre com um mesmo objetivo.
Isso pode ser muito bem observado nos países nórdicos, ditos ultracivilizados, em que o grau de repressão é de tal ordem, que os seus indivíduos, apenas se alcoolizados ou sobre efeito de qualquer outra droga, conseguem mostrar a sua verdadeira personalidade.
As praias de Ibiza, muito frequentadas por esses povos, são uma grande fonte de observação desses comportamentos tão absurdamente diferentes na chegada e ao por de sol, em que as criaturas já se livraram de suas amarras.
Outra experiência semelhante foi a estada em Copenhagen durante uma Copa Europeia, por eles vencida.
Apenas um fortíssimo esquema policial, conseguiu amenizar as cenas de extrema violência nas ruas provocada pela enorme “alegria” de seus habitantes.
Isso dá para sentir o perigo que o fechamento constante das válvulas da emoção pode causar.
Com relação aos compulsivos, aí estariam, provavelmente, dois terços da humanidade.
Práticas repetitivas levadas às últimas consequências, algumas até muito úteis ao status quo, como os desvairados na sua obsessão por trabalho e incapazes de curtir as delícias do ócio criativo e, principalmente, sem culpa.
O grande Bertrand Russel descreve isso muito bem numa de suas obras - O Elogio do Lazer.
Seguem as compulsões chamadas malditas, tais como a do jogo, a da bebida, a do cigarro e até a mais invejada de todas, a do amor.
Claro que todos esses prazeres, em graus extremos, se tornam extremamente nocivos aos indivíduos e à sociedade como um todo.
Mas, mesmo se usados como pequenos mimos são imediatamente rotulados como nefastos e suscetíveis até de tratamento psiquiátrico.
Essa é a sociedade em que vivemos. Que nega e culpa o Prazer.
Enfim, uma linha bem tênue separa o equilíbrio emocional na vivência dos prazeres que nos cercam das inúmeras patologias que esses mesmos excessos podem causar.
Os animais irracionais, ao contrário, não precisam se reprimir, pois seus instintos são normalmente aceitos pelo coletivo e, por essa mesma razão, não sofrem de distúrbios psiquiátricos, a não ser quando por nós domesticados.

Gabriel Novis Neves
05-10-2012

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