Aqueles
que desconhecem minha história de vida, não entendem ou sentem-se
desconfortados com a minha defesa intransigente pela educação e saúde pública
de qualidade para todos.
Recebo
emails, telefonemas e abordagens nos poucos lugares que frequento, com conselhos
para que eu escreva sobre outros temas que não sejam políticos e sociais.
Chegam
a me dizer que preferem que eu passe o resto da minha vida escrevendo sobre os
mangueirais, ipê roxo, a casa do pássaro João de Barro, a lua, o entardecer e
outros temas ligados ao meio ambiente e ao romantismo.
Vão
mais ainda. Alguns me aconselham a gozar as delícias da vida viajando ou então
entrar para um grupo de pessoas da melhor idade. “É uma gente alegre que está
sempre a viajar.” Ouço essas palavras como os conselhos têm que ser ouvidos, no
mais absoluto silêncio.
Será
que para gozar a vida terei que me afastar da minha terra? Para mim, são
conceitos totalmente inadequados esses que ligam felicidade à distância.
A
felicidade que nos proporciona gozar a vida está em nós. Nós somos a
felicidade.
Não
imagino deixar a minha gente e a terra onde nasci à procura de algo que tenho
em mim.
Neste
momento em que tantas misérias afligem a nossa gente é ato de covardia
abandoná-la.
Nunca
fui alienado. Não será agora, no meu crepúsculo da vida, que me tornarei
um egoísta e deixar de ser porta voz daqueles que sofrem.
Como
educador e médico, sinto uma tremenda dor ao tomar conhecimento das misérias
impostas pelos nossos políticos aos nossos cidadãos.
Nada
me faz esquecer uma das últimas crueldades impostas pelas 'autoridades' do
nosso Estado, à nossa sofrida população.
“A
Clínica de Hematologia do Hospital de Câncer está sob ameaça de parar o seu
atendimento.”
Motivo:
o Estado, alinhado com o governo federal, simplesmente deixou de quitar as
dívidas com o laboratório.
O
escritor Otto Lara Rezende cunhou uma frase famosa: “mineiro só é solidário no
câncer.” Esta cidade querida, que perdeu os seus verdadeiros valores, prova,
pela atitude dos seus novos dirigentes, que nem no câncer eles são solidários.
A
insensibilidade do executivo é tão gritante, que a Justiça do Estado é quem
está brigando com os homens da Copa para liberar recursos financeiros para
minorar o sofrimento dos pacientes com câncer.
Procurada
pela imprensa para explicar sobre esse terrorismo no atendimento aos portadores
de câncer, a Secretaria de Estado da Saúde, friamente, no melhor estilo dos
malfeitores da humanidade, com uma curta nota de esclarecimento informou que os
repasses à saúde serão efetuados de acordo com a disponibilidade do orçamento.
Como
esses recursos orçamentários foram gastos para o pagamento adiantado das
Land-Rover - maquinários para turbinar as eleições passadas -, aditivos para a
construção do Verdão, pagamento de precatórios e cartas de crédito, os nossos
pacientes estão condenados à morte programada.
Não
contando com o não explicado e misterioso caso da troca do BRT pelo VLT,
transação de bilhões de reais, cujas comissões altíssimas para poucos, estão
para esclarecimento pelo Poder Judiciário e Polícia Federal.
Se
tivéssemos no Brasil um ministério de verdade para cuidar dos direitos humanos,
tenho certeza que o responsável pela execução do orçamento do Estado estaria na
cadeia.
Como
escrever sobre o fascínio que a rosa roxa causa em mim, sabendo que se morre
por abandono nesta cidade tão linda e pura?
Para
decepção daqueles que me ‘querem bem’ sabendo que estou gozando a vida, optei
pela solitária campanha de lutar pelos mais pobres, denunciando todas as formas
de violência cometida pelos transitórios ocupantes do poder.
Assim,
nessa luta utópica, acho que estou certo e em paz com a minha consciência.
Gabriel Novis Neves
15-10-2012
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