quinta-feira, 18 de outubro de 2012

ESTOU CERTO


Aqueles que desconhecem minha história de vida, não entendem ou sentem-se desconfortados com a minha defesa intransigente pela educação e saúde pública de qualidade para todos.
Recebo emails, telefonemas e abordagens nos poucos lugares que frequento, com conselhos para que eu escreva sobre outros temas que não sejam políticos e sociais.
Chegam a me dizer que preferem que eu passe o resto da minha vida escrevendo sobre os mangueirais, ipê roxo, a casa do pássaro João de Barro, a lua, o entardecer e outros temas ligados ao meio ambiente e ao romantismo.
Vão mais ainda. Alguns me aconselham a gozar as delícias da vida viajando ou então entrar para um grupo de pessoas da melhor idade. “É uma gente alegre que está sempre a viajar.” Ouço essas palavras como os conselhos têm que ser ouvidos, no mais absoluto silêncio.
Será que para gozar a vida terei que me afastar da minha terra? Para mim, são conceitos totalmente inadequados esses que ligam felicidade à distância.
A felicidade que nos proporciona gozar a vida está em nós. Nós somos a felicidade.
Não imagino deixar a minha gente e a terra onde nasci à procura de algo que tenho em mim.
Neste momento em que tantas misérias afligem a nossa gente é ato de covardia abandoná-la.
Nunca fui alienado.  Não será agora, no meu crepúsculo da vida, que me tornarei um egoísta e deixar de ser porta voz daqueles que sofrem.
Como educador e médico, sinto uma tremenda dor ao tomar conhecimento das misérias impostas pelos nossos políticos aos nossos cidadãos.
Nada me faz esquecer uma das últimas crueldades impostas pelas 'autoridades' do nosso Estado, à nossa sofrida população.
“A Clínica de Hematologia do Hospital de Câncer está sob ameaça de parar o seu atendimento.”
Motivo: o Estado, alinhado com o governo federal, simplesmente deixou de quitar as dívidas com o laboratório.
O escritor Otto Lara Rezende cunhou uma frase famosa: “mineiro só é solidário no câncer.” Esta cidade querida, que perdeu os seus verdadeiros valores, prova, pela atitude dos seus novos dirigentes, que nem no câncer eles são solidários.
A insensibilidade do executivo é tão gritante, que a Justiça do Estado é quem está brigando com os homens da Copa para liberar recursos financeiros para minorar o sofrimento dos pacientes com câncer.
Procurada pela imprensa para explicar sobre esse terrorismo no atendimento aos portadores de câncer, a Secretaria de Estado da Saúde, friamente, no melhor estilo dos malfeitores da humanidade, com uma curta nota de esclarecimento informou que os repasses à saúde serão efetuados de acordo com a disponibilidade do orçamento.
Como esses recursos orçamentários foram gastos para o pagamento adiantado das Land-Rover - maquinários para turbinar as eleições passadas -, aditivos para a construção do Verdão, pagamento de precatórios e cartas de crédito, os nossos pacientes estão condenados à morte programada.
Não contando com o não explicado e misterioso caso da troca do BRT pelo VLT, transação de bilhões de reais, cujas comissões altíssimas para poucos, estão para esclarecimento pelo Poder Judiciário e Polícia Federal.
Se tivéssemos no Brasil um ministério de verdade para cuidar dos direitos humanos, tenho certeza que o responsável pela execução do orçamento do Estado estaria na cadeia.
Como escrever sobre o fascínio que a rosa roxa causa em mim, sabendo que se morre por abandono nesta cidade tão linda e pura?
Para decepção daqueles que me ‘querem bem’ sabendo que estou gozando a vida, optei pela solitária campanha de lutar pelos mais pobres, denunciando todas as formas de violência cometida pelos transitórios ocupantes do poder.
Assim, nessa luta utópica, acho que estou certo e em paz com a minha consciência.

Gabriel Novis Neves
15-10-2012

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