Cuiabá
voltou à sua origem de garimpo. Um imenso garimpo explorado pelos modernos
bandeirantes do século XXI, agora sem ouro e pedras preciosas.
As
nossas riquezas minerais foram levadas para a Coroa de Brasília pelas nossas
autoridades.
O
problema do apagão da energia elétrica, que há pouco o governo afirmava ter
resolvido, está na ordem do dia.
Não
é possível mais acreditar em acidentes com pequenos pássaros nas linhas de
transmissão ou simples coincidências de mudança de lua.
Cuiabá
será sede de uma Copa do Mundo. Com a regularidade dos apagões, não seria
impossível a conquista da medalha de ouro da vergonha nacional.
A
nossa sala de troféus negativos aumentou consideravelmente nos últimos dez
anos.
Tenho
certeza que os espertalhões infalíveis do poder já possuem até uma lista de
futuros sabotadores da nossa honra.
Seria
o pequeno beija-flor o responsável pelo choque na torre de transmissão da
energia motivando o apagão?
Santo
de casa não faz milagres, já escutava quando criança.
Desde
que a vaidade extrapolou os limites da normalidade em nossos governantes,
cuiabanos de nascimento e por adoção, sempre externaram as suas preocupações
com a extravagância dos gastos para preparar uma cidade para a Copa do Mundo.
Bilhões
de reais foram emprestados de instituições financeiras nacionais e
internacionais, para o que ficou sendo chamado de “o assalto da Copa”.
Obras
não prioritárias estão sendo executadas e, a mais emblemática de todas é a
Arena Pantanal – pela sua inutilidade após dois ou três jogos do campeonato
mundial.
O
responsável por esse desperdício de dinheiro público em um Estado carente de
mínimos investimentos sociais deveria ser julgado pelo Ministro Joaquim Barbosa
do Supremo Tribunal Federal (STF).
Irresponsabilidade
no manuseio do dinheiro público é crime.
Nós,
daqui, não fomos ouvidos, tampouco levados a sério.
Ninguém
melhor que um tetra campeão mundial de futebol, para opinar sobre o futuro do
campo de futebol de Cuiabá.
Elefante
branco, é como passará à história a nossa futura Arena, assim profetizou o
artilheiro de mais de mil gols, Romário.
A
FIFA sabe disso, a base aliada do governo também, assim como os sindicatos e
movimentos sociais. Só o nosso governo estadual não sabe.
Acha
que poderá ser muito bem aproveitado nas festas juninas e casamentos
comunitários.
Cerca
de um bilhão de reais serão investidos na suspeita obra da construção do
elefante branco, em uma cidade carente de equipamentos sociais básicos.
Não
temos nenhum hospital público. O ensino deixa muito a desejar pela sua
qualidade. Segurança pública é privilégio de poucos. Ausência de saneamento
ambiental e, principalmente, justiça social.
Outros
bilhões de reais estão sendo providenciados junto aos bancos - para a
construção de algo em torno de vinte quilômetros do famoso trenzinho - de
comissões altíssimas - o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).
A
nossa Assembleia Legislativa aprovou uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI), só para esclarecer a informação de um ex-funcionário do gabinete do
governador sobre os oitenta milhões de reais supostamente pagos a terceiros.
Vivemos
a angústia de saber que nunca encontraremos a utopia, perdida no nosso
horizonte.
O
governo não nos deixa sonhar. Logo, jamais dormiremos.
O
nosso dia-a-dia é um pesadelo que não merecemos.
Enquanto
isso, vivemos sem futuro no enorme garimpão em que foi transformada a nossa
querida e judiada Cuiabá, com quase trezentos anos de histórias e exemplos.
Gabriel Novis Neves
25-10-2012
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