No
início do século XXI, o governo que assumiu o comando político do Estado,
implicou com duas coisas: o tênis usado pelos políticos jovens que deixavam o
poder para os ruralistas usuários de botas e com uma misteriosa mala preta que
nunca foi encontrada.
Quando
da morte do suposto dono da mala preta, o governador pediu desculpas à família
enlutada, dizendo que a história da mala era uma jogada de desconstrução de um
governador que deixou o governo arrumado para os migrantes afoitos pelo poder.
O
novo governo se auto-intitulou como o governo de quebra de paradigmas. Nunca
votei nos meus amigos do tênis e, em nome da renovação, votei nos botinudos.
Aceitei
por um curto prazo de tempo exercer funções no primeiro escalão do governo das
botinas. Deixei o governo por posicionamento no campo de trabalho. Só por isso.
Sem mágoas ou rancores.
Encerrei,
por pura frustração, a minha participação em cargos públicos, mas não deixei de
exercer a minha cidadania em outra trincheira - o jornalismo amador, orientado
por grandes mestres.
Continuei
tocando também a minha profissão de médico. Sempre tive profissão definida e
residência conhecida.
Oito
anos são passados desses fatos superficialmente relatados e os botinudos não
existem mais. Trocaram as pesadas botas por calçados italianos, tratores por
BMW, casa no campo por mansões no Manso e em várias capitais brasileiras. Todos
respiram o ar da rápida prosperidade.
Ninguém
fala mais em quebra de paradigmas. O governo da continuidade herdou o que havia
sido extinto de Mato Grosso, que era o Estado Curral.
Com
a modernidade fala-se com a maior naturalidade em loteamento do poder. Voltamos
à época das capitanias hereditárias. Cada grupo político toma conta de uma.
Para
que tudo funcionasse bem, houve a compreensão dos outros poderes, que muito
ajudaram a estruturar o novo modelo de governo de quebra de paradigmas.
Estrutura
perfeita enquanto durou. A mala apareceu com uma série inacreditável de
utensílios utilizados no governo anterior.
Foi
encontrado desde maquiagem para iludir a aplicação dos repasses constitucionais
para saúde e educação, até notas fiscais complicadas, da maior compra de
tratores para se ganhar uma eleição.
Os
tratores não existem mais, após trabalharem até em fazendas fora de Mato
Grosso. Os esclarecimentos sobre o valor das compras continuam.
Agora
estoura, ou torna-se do conhecimento público, por intermédio da operação Cartas
Marcadas, o maior escândalo da história política de Mato Grosso.
O
Presidente do Poder Legislativo de Mato Grosso pede explicações ao ex-governador
que se mantém em silêncio olímpico.
Tem
tanta gente envolvida com essas cartas, que até parece coisa de baianos que
interpretam como ninguém a leitura das cartas.
Dezembro,
por aqui, está parecendo o setembro dos muçulmanos, quando velhos aproveitadores
do tesouro do Estado foram mandados embora, sendo alguns para outra vida.
A
revolta da população mato-grossense é tamanha, que acho difícil que esse
imbróglio termine em pizza.
E
caixa preta? Seria para guardar as Cartas Marcadas?
Gabriel
Novis Neves
17-12-2011
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