Quem
não as tem? O filósofo inglês Francis Bacon dizia que: “evitar superstição é
outra superstição”.
Eu
tenho uma superstição muito comum entre os leitores de jornais.
Após
o café dou uma olhadela nas manchetes dos jornais - hoje um trabalho rápido
pela repetição dos fatos.
Chego
a prestar atenção na data do jornal para ter certeza que estou lendo o jornal
do dia.
A
corrupção e a violência ocupam todos os espaços. E enfrentamos essa realidade
com muita naturalidade.
Sempre
foi assim, dizem os mais antigos, traduzindo a total impossibilidade de uma
mudança social.
Luto
e sofro com esse fatalismo dos nossos dias. Sempre foi assim, posso até
concordar, mas cruzar os braços diante dos desmandos, é desesperador.
Voltando
à minha superstição: procuro sempre - em local de pouca visibilidade no jornal
- a coluna mais lida: horóscopo.
Interessante
que, logo após a leitura do meu horóscopo, esqueço-me totalmente de como será o
meu dia e das recomendações dadas.
Por
outro lado, não consigo esquecer os pacientes sem medicamentos e hospitais para
internação, inexistentes para os pobres.
A
violência em todas as suas formas, dominando este país - que deu certo para
poucos – é outra coisa que também não me sai da cabeça.
Dia
destes, como sempre, li o meu horóscopo e fui trabalhar. Aconteceram-me tantas
coisas desagradáveis - que em outras épocas me aborreceriam - que vou em busca
do jornal para reler o meu horóscopo.
Pura
falta de atenção e credibilidade a minha. Se tivesse prestado atenção no que
estava escrito, não sairia de casa e estaria protegido dos dissabores
denunciados pelo meu horóscopo:
“Dia
de dificuldades. No trabalho esteja atento à influência de estranhos.
Debilitado por atos impensados, razão de desencontros.”
Perfeito.
Tudo aconteceu por minha displicência. Cheguei do consultório com a frente do
meu carro danificada pelas enormes tartarugas que encontrei bem no meio do meu
caminho. Não foi barbeiragem, apenas estava seguindo o comando do responsável
pela área de estacionamento.
À
noite sou alertado pela minha cuidadora que já era tarde e que tinha passado da
hora em que costumo ir dormir. Aí verifiquei que o meu relógio de pulso estava
parado. Tão entretido estava no computador que nem percebi que as horas não
andavam.
Tive
problema também com a minha máquina fotográfica. Ela começou a tremer, e o
técnico me disse que precisava trocar um bloco do aparelho.
Com
esses problemas materiais, interessei-me em saber os detalhes das outras
recomendações.
“Dia
de tendência à mudança súbita de humor e ânimo. Intimidade debilitada por atos
impensáveis.”
Encerro
lembrando a lição aprendida na frase de Raymond Smullyan: “Superstição dá
azar”.
Gabriel
Novis Neves
27-11-2011
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