Estava
fazendo a barba com a porta do banheiro aberta para ouvir o noticiário local da
televisão, quando a apresentadora do programa informou que em Rondonópolis há
muito tempo falta rabecão.
Fui
ao quarto acompanhar a notícia para não perder nenhum detalhe, pois não são
todos os dias que somos brindados com matérias tão sensacionais.
Para
quem não sabe, Rondonópolis é a cidade mais importante do sul mato-grossense.
Possui ensino superior há mais de trinta anos, uma economia fortíssima e um
pólo importante de cidades do agronegócio.
É
uma cidade linda e rica, com um povo trabalhador.
Rabecão
é um furgão que transporta cadáveres. O responsável por esse humano serviço de
recolher corpos encontrados, muitas vezes, em estado de putrefação, disse que
há oito meses o único rabecão da cidade está com problemas mecânicos, e na
oficina, sem prazo de alta.
Todos
os estudantes de medicina, no seu primeiro dia de aula, aprendem a oração do
cadáver desconhecido e a respeitá-lo.
Quantos
avanços da medicina foram conseguidos graças aos estudos no cadáver
desconhecido!
É
inaceitável que em uma cidade civilizada, com vida universitária e residência
de políticos importantes, não se dê atenção ao cadáver desconhecido.
Falamos
muito e fazemos pouco. Um rabecão, além de custar bem menos que a decoração de
uma Avenida no Natal, reflete aquilo que somos.
Não
adianta a chegada triunfal de alguém fantasiado de Papai Noel despencando cheio
de presentes de um helicóptero, e correndo o risco de pousar em cima de um
cadáver por falta de um rabecão.
Será
que Rondonópolis não merece receber a atenção do governo através de um simples
rabecão?
É
a grande oportunidade para agora, na folia do Papai Noel, corrigir este ato
desumano, que todo o Estado tomou conhecimento pela televisão.
Respeitemos
os nossos mortos, especialmente aqueles desconhecidos!
Gabriel
Novis Neves
19-12-2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.