quinta-feira, 21 de junho de 2012

O ranking


Recebi um telefonema de uma jovem jornalista, ex-aluna da nossa Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Ela queria que eu comentasse sobre a divulgação do último resultado da pesquisa realizada pela empresa inglesa Quaccquarelli World University Rankings, que listou as 600 melhores universidades do mundo – “Top Universities”.
Indaguei a ela se a nossa UFMT fora citada - ela respondeu que não.
Ponderei que o momento não era muito propício para qualquer comentário sobre o nosso ensino superior público, pois, praticamente, todas essas instituições estão em greve.
Os docentes da nossa UFMT há mais de trinta dias estão paralisados, agora com o apoio dos alunos e servidores, reivindicando melhores condições de trabalho e salários dignos.
Nada a comemorar nesse ranking quantitativo que deixa o Brasil muito mal, considerando o número de universidades federais que possuímos e as dez primeiras classificações qualitativas.
Mesmo assim a minha “colega” quis saber o que aconteceu nesses últimos quarenta anos com a UFMT.
Fiz um rápido resumo da situação. Mudou o sistema de avaliação. Antes, as instituições internacionais da mais alta credibilidade, avaliavam o desempenho do reitor. A nossa ficou entre as cinco melhores do Brasil.
Perdemos a nossa vocação amazônica, e entramos forçados no balaio dos cursos do MEC.
Não interessamo-nos mais em participar das decisões dos programas de desenvolvimento do Estado e sobre os seus problemas cruciais. Viramos um “Escolão” ocupado por cotas e com poucos recursos para a sua manutenção.
Como tiro de misericórdia, a falta total de autonomia acadêmica e financeira.
A universidade foi dividida em grupos políticos, comandados aqui de fora. Criou-se o docente “inimigo”, aquele que, apesar de ser o mais qualificado para determinada função, é vetado por razões político-partidários.
Universidade é universidade, partido político é partido político, sindicato é sindicato. Aqui se misturaram as coisas, e o resultado está aí.
A nossa audaciosa universidade, que recebeu um presidente da República para discutir a divisão do Estado, foi transformada em uma imensa repartição pública, com os mesmos vícios e “entusiasmo” desse local.
O corpo docente não se aventura a nenhuma proposta mais arrojada, por saber do rosário de favores que precisará fazer. Tem que escolher um “anjo da guarda” que possui votos no Congresso Nacional e que não seja do baixo clero.
O reitor, para tratar de qualquer assunto relacionado fora da rotina, precisa da assinatura de todos os “lideres” deste Estado.
Este ato o faz refém do governo, o que é inadmissível em uma casa de debates e luta de ideais salutares. Indicadores quantitativos nunca foram considerados mais importantes que os qualitativos na nossa UFMT. Por isso, ela existe.
Segundo o Top Universities, o Brasil domina o ranking das universidades latino-americanas em termos quantitativos.
Possuímos 65 universidades, o México 46, o Chile 36, a Colômbia 34, a Argentina 26, o Peru 10, o Equador 6, a Venezuela 6, o Uruguai 4, a Costa Rica 3, o Paraguai 3, o Panamá 2, a Guatemala 1, a Nicarágua 1 e Porto Rico 1.
Cuba, por ser um continente diferente, não aparece na lista dos ingleses.
Os dez primeiros lugares em qualidade, segundo o Top Universities:
O Brasil ficou com o 1º lugar (USP), 3º lugar (Unicamp-SP), e o 9º lugar (UFRJ).
O Chile com a 2ª, 4ª, 7ª e 10ª colocações.
O México ficou com a 5ª e 8ª colocações.
A Colômbia aparece em 6º lugar.
A Argentina não teve nenhuma universidade entre as dez primeiras. O estranho foi a UNB perder 14 pontos com relação ao ano passado.
Os britânicos não publicam a relação das piores universidades por questão de ética. Se não me engano, publicaram até o número quarenta.
Enquanto isso, a nossa UFMT está em greve por tempo indeterminado, pelo não cumprimento de um acordo feito com o governo federal em 2008.

Gabriel Novis Neves
18-06-2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.