Recebi
um telefonema de uma jovem jornalista, ex-aluna da nossa Universidade Federal
de Mato Grosso (UFMT).
Ela
queria que eu comentasse sobre a divulgação do último resultado da pesquisa
realizada pela empresa inglesa Quaccquarelli World University Rankings, que
listou as 600 melhores universidades do mundo – “Top Universities”.
Indaguei
a ela se a nossa UFMT fora citada - ela respondeu que não.
Ponderei
que o momento não era muito propício para qualquer comentário sobre o nosso
ensino superior público, pois, praticamente, todas essas instituições estão em
greve.
Os
docentes da nossa UFMT há mais de trinta dias estão paralisados, agora com o
apoio dos alunos e servidores, reivindicando melhores condições de trabalho e
salários dignos.
Nada
a comemorar nesse ranking quantitativo que deixa o Brasil muito mal,
considerando o número de universidades federais que possuímos e as dez
primeiras classificações qualitativas.
Mesmo
assim a minha “colega” quis saber o que aconteceu nesses últimos quarenta anos
com a UFMT.
Fiz
um rápido resumo da situação. Mudou o sistema de avaliação. Antes, as
instituições internacionais da mais alta credibilidade, avaliavam o desempenho
do reitor. A nossa ficou entre as cinco melhores do Brasil.
Perdemos
a nossa vocação amazônica, e entramos forçados no balaio dos cursos do MEC.
Não
interessamo-nos mais em participar das decisões dos programas de
desenvolvimento do Estado e sobre os seus problemas cruciais. Viramos um
“Escolão” ocupado por cotas e com poucos recursos para a sua manutenção.
Como
tiro de misericórdia, a falta total de autonomia acadêmica e financeira.
A
universidade foi dividida em grupos políticos, comandados aqui de fora.
Criou-se o docente “inimigo”, aquele que, apesar de ser o mais qualificado para
determinada função, é vetado por razões político-partidários.
Universidade
é universidade, partido político é partido político, sindicato é sindicato.
Aqui se misturaram as coisas, e o resultado está aí.
A
nossa audaciosa universidade, que recebeu um presidente da República para
discutir a divisão do Estado, foi transformada em uma imensa repartição
pública, com os mesmos vícios e “entusiasmo” desse local.
O
corpo docente não se aventura a nenhuma proposta mais arrojada, por saber do
rosário de favores que precisará fazer. Tem que escolher um “anjo da guarda”
que possui votos no Congresso Nacional e que não seja do baixo clero.
O
reitor, para tratar de qualquer assunto relacionado fora da rotina, precisa da
assinatura de todos os “lideres” deste Estado.
Este
ato o faz refém do governo, o que é inadmissível em uma casa de debates e luta
de ideais salutares. Indicadores quantitativos nunca foram considerados mais
importantes que os qualitativos na nossa UFMT. Por isso, ela existe.
Segundo
o Top Universities, o Brasil domina o ranking das universidades
latino-americanas em termos quantitativos.
Possuímos
65 universidades, o México 46, o Chile 36, a Colômbia 34, a Argentina 26, o
Peru 10, o Equador 6, a Venezuela 6, o Uruguai 4, a Costa Rica 3, o Paraguai 3,
o Panamá 2, a Guatemala 1, a Nicarágua 1 e Porto Rico 1.
Cuba,
por ser um continente diferente, não aparece na lista dos ingleses.
Os
dez primeiros lugares em qualidade, segundo o Top Universities:
O
Brasil ficou com o 1º lugar (USP), 3º lugar (Unicamp-SP), e o 9º lugar (UFRJ).
O
Chile com a 2ª, 4ª, 7ª e 10ª colocações.
O
México ficou com a 5ª e 8ª colocações.
A
Colômbia aparece em 6º lugar.
A
Argentina não teve nenhuma universidade entre as dez primeiras. O estranho foi
a UNB perder 14 pontos com relação ao ano passado.
Os
britânicos não publicam a relação das piores universidades por questão de
ética. Se não me engano, publicaram até o número quarenta.
Enquanto
isso, a nossa UFMT está em greve por tempo indeterminado, pelo não cumprimento
de um acordo feito com o governo federal em 2008.
Gabriel
Novis Neves
18-06-2012
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