domingo, 24 de junho de 2012

AMANHECER EM JUNHO


É diferente. Antes mesmo dos primeiros raios solares despontarem no horizonte para anunciar um novo dia, o céu é inundado pelas luzes multicoloridas dos fogos de artifício.
Os primeiros rojões são lançados pontualmente às quatro horas para despertar a população para a missa das cinco. Assim começa o amanhecer em junho. Uma saudação aos santos juninos Antônio, João e Pedro.
As madrugadas nesse mês são consideradas frias para os cuiabanos. Para a missa dos santos festeiros, as mulheres se vestem com blusas de mangas compridas e casaquinhos. Os homens vão de paletó e, muitos de chapéu - para se protegerem do sereno da madrugada.
Enquanto os fiéis se preparam para a missa, fico na janela do meu quarto observando os fogos de artifício e o movimento nas ruas.
Percebo que os clarões dos fogos vêm dos mais longínquos bairros da cidade. No quadrilátero onde moro só percebo o silêncio. Apartamentos com as suas luzes apagadas e movimento de cães vadios pelas ruas.
É a gente simples dos bairros periféricos que mantém viva a nossa cultura religiosa. A fé nesses santos ficou quase que somente sob a guarda dos mais humildes.
No entanto, em período de eleições o perfil das missas da madrugada é alterado pela presença das clientes da Daslu e dos candidatos a cargos eletivos.
O comentário dos verdadeiros fiéis é que tudo que é forçado não dá certo e não tem valor.
Esses fiéis oportunistas fazem da fé um restaurante de rodízios. Frequentam festas religiosas de todas as crenças. Talvez, na suposição de que irão se beneficiar do apoio de seus deuses diversos. Esquecem que nosso Deus é um só, e que Ele dispensa esse tipo de peregrinação.
O sentimento religioso do cuiabano ainda permanece forte e inalterado, mesmo que tenha como medida os clarões dos rojões nas madrugadas de junho.

Gabriel Novis Neves
11-06-2012

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