quinta-feira, 18 de agosto de 2011

QUANTO VALE

Já escrevi que Deus me conduziu para certos afazeres que jamais me atraíram. Um deles foi o de administrar uma casa. Saber, por exemplo, Tim-Tim por Tim-Tim, o custo da manutenção de uma casa - com um único morador.

Até então, essa função de administrador era exercida por uma pessoa que foi levada prematuramente por Ele, para longe das misérias terrestres.

Não é fácil administrar uma casa quando não se tem conhecimento, nem vocação. O trabalho, sem motivação, torna-se um fardo pesado. E eu carrego este fardo, e exerço minha função de administrador por absoluta falta de opção.

Diariamente recebo toneladas de correspondência. E tenho que abri-las. Umas são importantes, outras meras chatices.

Fiquei sabendo, por exemplo, que inauguraram mais uma pizzaria e uma farmácia aqui perto de casa, e os seus preços são convidativos. Até o dia dez de cada mês, o período é de pagamento, que com muita má vontade sou obrigado a fazer.

Para pagar esses compromissos tenho que ler todos os abundantes papéis que me chegam. O pior é que o custo desse desperdício é meu. Fiquei sabendo, entre outras coisas, que pagamos de vale transporte R$ 529,60, de cesta básica R$ 419,00, e mais 28 itens de despesas de condomínio no edifício onde moro. Na minha casa a situação é mil vezes mais trabalhosa. Fico espantado com a estrutura para me sustentar.

Faço uma regressão aos tempos em que vivia em uma república de estudantes – com vaga em um quarto. Oh! Meu mestre Ataulfo Alves, como “eu era feliz e não sabia.”

Tudo que possuía estava na pequena mala de papelão debaixo da minha cama. Não tinha nada a conferir e muito pouco a pagar. Tudo na república funcionava bem, pois nada tínhamos além da cama e banheiro. Nunca faltava a cozinheira, e o preço do chuchu jamais me preocupou, assim como do leite servido em copo de papel. Os pratos não eram substituídos, pois as refeições, no restaurante da faculdade, eram servidas em bandejões de alumínio à prova de queda. Na república, por motivos econômicos, telefone fixo era luxo incompatível com a profissão de estudante.

Isso passou, foi apenas uma fase da minha vida. Atualmente terceirizei as compras do supermercado por absoluta incompetência. Fico transtornado com a poluição visual de um lugar que tem tanta coisa, para tão poucos. Dizem que é um lugar maravilhoso e funciona também como um grande centro de convivência, onde antigos amigos se encontram para conversas do passado. É uma diversão! - diz minha irmã, que vai lá diariamente. Enquanto isso, eu fico em casa anotando as cifras para pagamento das inúmeras cobranças recebidas para a manutenção da casa, mesmo sendo de um morador só.

Após cinco anos, acabei me habituando com o preço das coisas e considerava-me até um expert no assunto.

Veio a crise no Ministério dos Transportes, capitania hereditária do Partido da República. A revista Veja fez uma denúncia da utilização de métodos não republicanos usados pelos ditos cujos, com o nosso dinheiro. A presidente, que nada sabia, sumariamente demitiu, até este momento, vinte e sete funcionários do órgão.

O ex-ministro foi ao Senado provar a sua inocência e expôs as vísceras do Governo. A oposição conseguiu o número de assinaturas para instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado. A mãe não aceitou a decisão, e um velho senador foi “convencido” a retirar a sua assinatura, após muito pensar no futuro do Brasil.

Preço dessa profunda reflexão, segundo os jornais: o senador conseguiu o compromisso que o seu filho seria o próximo Ministro do Tribunal de Contas da União. O cargo é vitalício e o seu preço está pela hora da morte.

É difícil administrar uma casa, especialmente se essa for o Brasil atual, onde assinatura tem preço não tabelado.

Preço de marca de produtos eu conheço, mas de assinatura... E de senador!

Ah! Dá licença!

Gabriel Novis Neves

04-08-2011

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