quarta-feira, 24 de agosto de 2011

DEIXAR A POEIRA BAIXAR

Certa ocasião, conversando com o Dr. Fernando Correa da Costa, ele me disse:

- Menino, o melhor remédio que existe na medicina é o tempo. Ele cura!

Custei a entender as sábias palavras de um médico, e político famoso, a um estudante de medicina.

Passei a ouvir, nas minhas dificuldades de aprendizado na enfermaria da Santa Casa do Rio de Janeiro, que o tempo cura!

Os vaidosos médicos apenas substituíram o tempo pela observação.

Quando, diante de uma patologia desconhecida, o médico diz à família do paciente que ele ficará em observação, isso não é nada mais que esperar o tempo passar, pois ele cura.

O presidente que inaugurou a duplicação de letras em nomes de batismo foi o Collor.

Virou novidade, e hoje temos centenas de Isabelles, Gabrielles, Marcellos, Camillos, etc.

O Collor, ao ser enxotado da Presidência da República pelos seus atuais amigos, e após conferir as horas, repetiu uma frase famosa prevendo o seu triunfal retorno ao poder:

- O tempo é o senhor da razão.

Com o escândalo no Ministério dos Transportes, ressurgiu um antigo provérbio muito nosso conhecido: “Deixa a poeira baixar.”

Todos utilizaram-se do tempo para se salvar, inclusive da recentíssima faxina ordenada pela presidente nos seus ministérios.

Faxina é um termo antigo, e provavelmente a presidente o ouviu muito em casa quando criança.

Faxina é o tempo da limpeza. Tem prazo de validade, que é curto. Imagino que nos próximos quatro anos as faxinas serão semanais, com direito à publicação dos seus resultados aos domingos na revista Veja.

A receita tem que ser mudada.

Tempo dá recidiva. Os exemplos estão aí para serem identificados.

Emblemático do efeito tempo é o fato do ex-presidente deposto por suposta corrupção (foi inocentado pelo Supremo Tribunal Federal), ser companheiro do líder dos Caras Pintadas no Senado.

O tempo curou as suas divergências ideológicas.

São senadores da base de sustentação do governo - Collor e o líder dos Caras Pintadas.

Única mudança entre os dois foi na cor dos cabelos.

Nessas ocasiões, lembro-me de um personagem do Jô Soares.

Um jovem sofrera um grave traumatismo de crânio sendo transportado para uma UTI e induzido por anos a um coma medicamentoso.

O período era da ditadura com censura.

Às vezes os médicos superfializavam o coma retirando os tubos de entubação anestésica.

O paciente recuperava a consciência para os fatos de anos passados.

Cada resposta a uma sua pergunta, o paciente piorava.

Não suportando o sofrimento com a realidade, pedia aos médicos, pelo amor de Deus, que colocassem os tubos novamente.

Preferia continuar inconsciente a digerir o que acontecia no país.

Na época do acidente o presidente do partido da revolução era o prestimoso Marimbondo da Academia de Letras.

No primeiro teste da retirada dos tubos o paciente perguntou aos médicos:

- Em que ano estamos?

- 1986.

- Qual é o nome do general que está de plantão na Presidência da República?

- É o presidente do partido da revolução.

- Boa. O poder está voltando aos civis, não é?

- Não é bem assim...

- Como assim?

- O presidente eterno do partido dos militares, saiu do partido da revolução para enfrentar uma eleição indireta como vice, no Congresso.

- Ah! Então o povo não votou?

- Sim, pelos seus representantes...

- Mas eu perguntei quem era o presidente e não o vice, que nunca mandou nada. Parece mais "primeiro damo."

- O presidente do Brasil é ele sim.

- Por favor, me expliquem melhor essa situação, pois estou ficando maluco. Cada vez entendo menos o que se passou nesses vinte anos que estive em coma.

- Calma, Jô! Ele é presidente por obra do destino. No dia da posse o presidente eleito com o aval dos militares faleceu, e o seu vice assumiu para governar com os seus inimigos, na tarefa de redemocratizar o Brasil

- Doutor, me atenda: coloque logo os tubos!

Isso aconteceu num passado recente.

Agora um famoso banqueiro, que esteve durante algum tempo no inferno do poder e da polícia, disse que está esperando a poeira baixar para continuar trabalhando no setor de petróleo e gás.

Chamem o SAMU! Quero um tubo para retirar a minha consciência, mesmo indo para uma UTI do SUS.

Deixe-me lá, até a poeira assentar.


Gabriel Novis Neves

18-08-2011

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