Certa ocasião, conversando com o Dr. Fernando Correa da Costa, ele me disse:
- Menino, o melhor remédio que existe na medicina é o tempo. Ele cura!
Custei a entender as sábias palavras de um médico, e político famoso, a um estudante de medicina.
Passei a ouvir, nas minhas dificuldades de aprendizado na enfermaria da Santa Casa do Rio de Janeiro, que o tempo cura!
Os vaidosos médicos apenas substituíram o tempo pela observação.
Quando, diante de uma patologia desconhecida, o médico diz à família do paciente que ele ficará em observação, isso não é nada mais que esperar o tempo passar, pois ele cura.
O presidente que inaugurou a duplicação de letras em nomes de batismo foi o Collor.
Virou novidade, e hoje temos centenas de Isabelles, Gabrielles, Marcellos, Camillos, etc.
O Collor, ao ser enxotado da Presidência da República pelos seus atuais amigos, e após conferir as horas, repetiu uma frase famosa prevendo o seu triunfal retorno ao poder:
- O tempo é o senhor da razão.
Com o escândalo no Ministério dos Transportes, ressurgiu um antigo provérbio muito nosso conhecido: “Deixa a poeira baixar.”
Todos utilizaram-se do tempo para se salvar, inclusive da recentíssima faxina ordenada pela presidente nos seus ministérios.
Faxina é um termo antigo, e provavelmente a presidente o ouviu muito em casa quando criança.
Faxina é o tempo da limpeza. Tem prazo de validade, que é curto. Imagino que nos próximos quatro anos as faxinas serão semanais, com direito à publicação dos seus resultados aos domingos na revista Veja.
A receita tem que ser mudada.
Tempo dá recidiva. Os exemplos estão aí para serem identificados.
Emblemático do efeito tempo é o fato do ex-presidente deposto por suposta corrupção (foi inocentado pelo Supremo Tribunal Federal), ser companheiro do líder dos Caras Pintadas no Senado.
O tempo curou as suas divergências ideológicas.
São senadores da base de sustentação do governo - Collor e o líder dos Caras Pintadas.
Única mudança entre os dois foi na cor dos cabelos.
Nessas ocasiões, lembro-me de um personagem do Jô Soares.
Um jovem sofrera um grave traumatismo de crânio sendo transportado para uma UTI e induzido por anos a um coma medicamentoso.
O período era da ditadura com censura.
Às vezes os médicos superfializavam o coma retirando os tubos de entubação anestésica.
O paciente recuperava a consciência para os fatos de anos passados.
Cada resposta a uma sua pergunta, o paciente piorava.
Não suportando o sofrimento com a realidade, pedia aos médicos, pelo amor de Deus, que colocassem os tubos novamente.
Preferia continuar inconsciente a digerir o que acontecia no país.
Na época do acidente o presidente do partido da revolução era o prestimoso Marimbondo da Academia de Letras.
No primeiro teste da retirada dos tubos o paciente perguntou aos médicos:
- Em que ano estamos?
- 1986.
- Qual é o nome do general que está de plantão na Presidência da República?
- É o presidente do partido da revolução.
- Boa. O poder está voltando aos civis, não é?
- Não é bem assim...
- Como assim?
- O presidente eterno do partido dos militares, saiu do partido da revolução para enfrentar uma eleição indireta como vice, no Congresso.
- Ah! Então o povo não votou?
- Sim, pelos seus representantes...
- Mas eu perguntei quem era o presidente e não o vice, que nunca mandou nada. Parece mais "primeiro damo."
- O presidente do Brasil é ele sim.
- Por favor, me expliquem melhor essa situação, pois estou ficando maluco. Cada vez entendo menos o que se passou nesses vinte anos que estive em coma.
- Calma, Jô! Ele é presidente por obra do destino. No dia da posse o presidente eleito com o aval dos militares faleceu, e o seu vice assumiu para governar com os seus inimigos, na tarefa de redemocratizar o Brasil
- Doutor, me atenda: coloque logo os tubos!
Isso aconteceu num passado recente.
Agora um famoso banqueiro, que esteve durante algum tempo no inferno do poder e da polícia, disse que está esperando a poeira baixar para continuar trabalhando no setor de petróleo e gás.
Chamem o SAMU! Quero um tubo para retirar a minha consciência, mesmo indo para uma UTI do SUS.
Deixe-me lá, até a poeira assentar.
Gabriel Novis Neves
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