sábado, 20 de agosto de 2011

IMAGINAÇÃO

Estava de saída para minha caminhada, quando o porteiro do prédio onde moro me avisou que o zelador queria falar comigo. Peço que o chame.

Instantes após estava ouvindo as ponderações do homem que sabe de todos os segredos do condomínio. Muito bem educado e informado, atende a todos em qualquer situação.

Há dias ele havia-me alertado para o problema dos vasos do jardim do meu sobradinho.

Duas plantas de raízes tipo batata, sem espaço para crescer, danificaram os antigos vasos de cimento, produzindo rachaduras. Os vasos já tinham se perdido, tínhamos então que preservar as palmeirinhas.

Naquela ocasião combinei com ele que, quando ele tivesse um tempinho me avisaria, para comprarmos um vaso maior e mais moderno, terra preta e adubo.

A tecnologia de como realizar o transplante com sucesso, sem danificar as plantas, tinha certeza que ele conhecia.

O dia chegou para ele. Entre a minha caminhada terapêutica e as palmeirinhas, optei, sem remorsos, pelas árvores. Essa conversa foi na portaria do edifício.

Fomos à garagem para pegar o meu carro.

Lá encontramos a nossa querida síndica. Ela estava de roupa social, com um travesseiro de fronha verde debaixo do braço e perfumada.

Quando me viu de uniforme de caminhada entrando no carro com o zelador, foi logo perguntando:

- Aonde vai chique assim?

Chique a que ela se referia – acho que ironicamente - era o meu uniforme de caminhada: tênis, calção camiseta e boné.

- Vou comprar dois vasos, e ele (o zelador) tem a medida deles – expliquei.

- Ah! – exclamou surpresa.

Percebi que além da exclamação de surpresa, seu rosto demonstrava alguma apreensão. Não entendi. Mas, prossegui com a minha explicação:

- Lá em casa, como você sabe, tem muitos vasos. Mas somente dois apresentaram problemas e estão para estourar. Então vou trocá-los antes que causem um prejuízo maior.

- O vaso que está para estourar é o do seu quarto e do escritório? – ela perguntou.

Diante da pergunta, desconfiei que a nossa conversa estivesse andando por dois caminhos.

Resolvi, portanto, colocar ordem nesse diálogo, que nem eu estava mais entendendo.

- Acho que está havendo uma baita confusão na nossa conversa. A senhora está se referindo a quais vasos?

- Ora, claro que só pode ser os vasos do seu banheiro e do seu escritório, lugares que mais você usa – ela respondeu convicta.

- Minha senhora – ponderei -, já se esqueceu que sou viúvo, moro só, tenho seis banheiros em casa, e é o lugar menos frequentado da casa?

– E prossegui: - Estou trocando dois vasos do meu jardim por excesso de substância de material acumulado pelo desenvolvimento das palmeirinhas tropicais.

Foi então que ela percebeu que eu estava me referindo a vasos de planta, e não, a vasos sanitários.

A língua portuguesa é muita rica em vocábulos, assim como é rica em palavras homônimas.

Vaso, por exemplo.

Qualquer mal entendido pode nos levar a imaginar mil coisas.

Desfeito o engano, lembrei-me de Carl Sagan:

“A imaginação muitas vezes nos conduz a mundos que nunca fomos, mas sem ela não iremos a nenhum lugar.”


Gabriel Novis Neves

11-08-2011

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