31 de julho

Esta data estará para sempre guardada na minha lembrança.

Comemorarei sempre esta data como o “Dia da Barata Voadora.”

Foi ela a responsável pelo meu caminho nos últimos quarenta e sete anos.

Se não fosse a barata voadora, não tenho a mínima idéia de como, nem onde, estaria hoje.

Foi a grande responsável pela minha permanência definitiva na minha querida Cuiabá.

A história foi assim:

Quando no silêncio da noite, a lampadazinha do abajur do meu quarto de dormir foi desligada, as dúvidas acerca da minha decisão de voltar para Cuiabá, iam me consumindo.

Eis que, de repente, uma barata voadora, em vôo desesperado, entra no meu escuro quarto de dormir.

Ouço o barulho produzido pela enorme barata voadora chocando-se contra o guarda roupa.

Naquele momento, minha companheira de quarto, que dormia, acende a lampadazinha do abajur.

Falo para ela o motivo do barulho, que hoje chamo de barulho da salvação.

No chão, a barata voadora.

Aquele som despertou na minha mulher um misto de sentimentos de medo e de solidariedade.

Em mim, a certeza que escolhi o caminho certo.

Enquanto conversávamos, a barata voadora desapareceu.

Gostaria, se pudesse, de demonstrar àquela barata voadora, o meu carinho e agradecimento pela ajuda prestada, no instante que mais necessitava.

O barulho do seu corpo no choque com o guarda roupa, jamais esquecerei.

A mãe dos meus filhos, presente em todos os momentos delicados que a vida nos presenteou, está ausente há cinco anos.

Tenho certeza que, no céu, estará lendo esta declaração de agradecimento à barata voadora.

Pois, foi ela que fez com que minha mulher decidisse adotar Cuiabá, para sempre.

Era o grande desafio do desconhecido.

Nunca soube que barata voasse.

Foi a barata que me fez sentir a solidariedade, a coragem e a confiança da minha jovem companheira, atributos que a acompanharam por toda a nossa vida em comum.

Solidariedade, coragem e confiança, sentimentos que só existem entre pessoas que se amam.

Gabriel Novis Neves
31-07-2011