Há dias ouvi pelo rádio uma entrevista do secretário de Saúde do Estado sobre o seu trabalho.
Um dos projetos que considera prioritário para equacionar a caótica situação que herdou na pasta da Saúde, para mim foi uma surpresa.
Está trabalhando com afinco, junto à reitoria da nossa Universidade Federal, para instalar uma escola de Medicina em Rondonópolis e outra em Sinop - onde a UFMT mantém campi universitários.
Com relação a Cáceres, os entendimentos com a UNEMAT estão avançados.
Até a única universidade privada de Cuiabá será procurada para instalar, talvez, uma em Alta Floresta.
Como estava dirigindo, resolvi, em nome da prudência, procurar um lugar apropriado para estacionar o meu carro.
A notícia da criação de novas escolas foi tão forte, que acusei o golpe.
O Brasil possuía, até há poucos dias, cerca de cento e oitenta escolas médicas.
Agora, a nossa Secretaria de Saúde, que não consegue contratar médicos existentes no mercado, resolve formar médicos?
Médico é médico.
Não é sal, mafioso, mercenário, preguiçoso, e outros adjetivos recebidos dos nossos políticos.
Médico é um profissional que precisa de boas escolas, com corpo docente qualificado e motivado.
Escola médica requer laboratórios, sendo o maior de todos, os hospitais de ensino.
Não é segredo que o nosso Estado tem verdadeiro pavor de manter hospitais funcionando - nos últimos anos ele contribuiu para fechar alguns.
Outros, funcionando, foram comprados, os pacientes retirados e o local utilizado para funções burocráticas.
Basta citar que a Capital do Estado é a única no país que não possui, nem possuirá, um hospital público.
Essa proliferação de faculdades de Medicina exigirá a construção de um hospital universitário no município escolhido para a sua instalação.
E aí? Quem bancaria os recursos para esse projeto?
Um hospital pode até funcionar sem telefonista, porteiro, servente, maqueiro, etc, mas, nunca, jamais, sem médico.
O médico, no entanto, necessita de condições de trabalho para desempenhar as suas funções, e isso lhe é negado.
Sofre a população, e essa situação indica novos caminhos a centenas de médicos.
No nosso Estado temos o trabalho infantil, trabalho escravo, e agora, trabalho escravo do médico.
O assunto é sério.
Não devemos mais aceitar, passivamente, leviandades e demagogias.
As universidades públicas perderam totalmente a sua autonomia.
Vivem de repasses dos governos, apenas para pagar salários achatados dos seus docentes e servidores.
Estão sempre em greve, reivindicando melhores condições de trabalho e melhoria dos seus indecentes salários.
Os investimentos das nossas universidades públicas dependem de emendas parlamentares.
Uma forma cruel de transformar os reitores de universidades públicas em reféns políticos.
Exemplo recente: toda a comunidade científica das ciências da saúde se posicionou contra as OSS para gerenciar a saúde pública no Estado.
O representante da UFMT, no Conselho de Saúde, deu o voto de Minerva favorável às OSS. Justificativa: a UFMT faz parte da base de sustentação do governo.
A universidade privada só se pronunciará após profundo estudo do mercado.
O grande problema da falta de médicos no interior é ocasionado por falta de condições de trabalho oferecida a esses profissionais.
Não faltam escolas de Medicina no Brasil.
O que inexiste, são políticas públicas para fixação desses profissionais no interior.
Caro secretário de Saúde.
Procure conversar com os colegas que foram para o interior e retornaram frustrados.
Torço para que as OSS resolvam todos os problemas, pois o governo já declarou que é incompetente para essa missão.
Será que a criação desse pacote de escolas médicas é mais uma exigência das OSS?
Gabriel Novis Neves
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